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Introdução
O conflito entre culto tradicional e culto contemporâneo, nos Estados Unidos, tem sido chamado de “guerra da adoração” (worship wars). Paul Basden expõe uma síntese deste conflito em seu livro “Adoração ou Show?” críticas e defesas de seis estilos de culto (2006): adoração litúrgica formal, adoração tradicional com hinos, adoração contemporânea, adoração carismática, adoração combinada e adoração emergente.
No Brasil, a situação não é muito diferente, principalmente nas igrejas históricas. A secularização da Igreja, o mercado da música gospel, a pressão dos modelos neo-pentecostais e a implantação de novos modelos eclesiológicos de cultuar.
Creio que mudanças são sempre bem-vindas, principalmente se elas estão baseadas na Bíblia e nos aproximam mais de Deus. Precisamos, entretanto, de muito discernimento espiritual. Paulo nos ordena: julgai todas as coisas, retende o que é bom; abstende-vos de toda forma de mal. (I Tessalonicenses 5:21-22). O eixo do conflito é teológico e não apenas musical ou de estilo litúrgico.
Antes de começar este estudo sobre o culto, preciso estabelecer alguns parâmetros que o nortearão.
1. Cremos que a Bíblia estabelece a maneira como Deus quer ser cultuado. A Bíblia regulamenta o culto, na sua forma e no seu conteúdo. Qualquer culto elaborado por conta própria e que não esteja de acordo com as normas de Deus é falso e inaceitável a Deus. (Êxodo 20:1-6; Deuteronômio 6:13-15). Quando Israel resolveu por conta própria cultuar a Deus, o profeta Jeremias protesta: “Edificaram os altos de Tofete, que está no vale do filho de Hinom, para queimarem a seus filhos e a suas filhas; o que nunca ordenei, nem me passou pela mente.” (Jeremias 7:31). Deus rejeita a Israel, pois a sua adoração nunca foi ordenada por Deus ou jamais passou pela mente do Senhor.
2. Cremos que o culto a Deus é uma antítese da vida e do culto pagão. Deus recomenda a Israel: “Quando o SENHOR, teu Deus, eliminar de diante de ti as nações, para as quais vais para possuí-las, e as desapossares e habitares na sua terra, guarda-te, não te enlaces com imitá-las, após terem sido destruídas diante de ti; e que não indagues acerca dos seus deuses, dizendo: Assim como serviram estas nações aos seus deuses, do mesmo modo também farei eu. Não farás assim ao SENHOR, teu Deus, porque tudo o que é abominável ao SENHOR e que ele odeia fizeram eles a seus deuses, pois até seus filhos e suas filhas queimaram aos seus deuses. Tudo o que eu te ordeno observarás; nada lhe acrescentarás, nem diminuirás.” (Deuteronômio 12:29-32). O culto a Deus é único, inédito, inigualável e exclusivo. Ele não é uma imitação do culto pagão.
3. Entendemos que o conceito de adoração na Bíblia envolve a vida do adorador e não apenas o momento do culto. A vida é o culto e o culto é a vida. Deus diz ao seu povo: “Agora, pois, ó Israel, que é que o SENHOR requer de ti? Não é que temas o SENHOR, teu Deus, e andes em todos os seus caminhos, e o ames, e sirvas ao SENHOR, teu Deus, de todo o teu coração e de toda a tua alma, para guardares os mandamentos do SENHOR e os seus estatutos que hoje te ordeno, para o teu bem?” (Deuteronômio 10:12-13).
4. Cremos que o ensino do culto na Bíblia revela uma simultaneidade com a revelação progressiva de Deus, culminando com Jesus Cristo. “Mas vem a hora e já chegou, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque são estes que o Pai procura para seus adoradores. Deus é espírito; e importa que os seus adoradores o adorem em espírito e em verdade.” (João 4:23-24). Logo, ao estudarmos acerca do culto, precisamos considerar as diferenças entre o culto no Antigo Testamento e no Novo Testamento, isto é, o culto antes de Cristo e depois de Cristo.
5. A nossa motivação para este estudo não é a defesa de um estilo de culto: “culto tradicional” ou “culto contemporâneo”, mas a exposição do ensino bíblico acerca dos princípios do culto a Deus. Entendemos que a Bíblia não apresenta estilos de cultos e também não estabelece nenhuma liturgia fixa para o culto cristão. Esta é a posição da fé reformada e da Igreja Presbiteriana do Brasil, que normatiza o culto por intermédio dos “Princípios de Liturgia”. (1)
6. Entendo que o crescimento espiritual da igreja e a sua influência espiritual fundamenta-se na sua prática de adoração. Antes de pensarmos em fazer qualquer coisa na igreja, precisamos restaurar o altar da adoração em nossas vidas pessoais, no nosso lar e na nossa igreja. Warren W. Wiersbe diz: “Adoração não é uma opção, é uma obrigação; não é luxo, é uma necessidade. Adorar a Deus e glorificá-lo é a única coisa que a igreja pode fazer e que nenhuma outra assembléia pode fazer. Não estou certo de que estejamos fazendo isto. William Temple disse: ‘A única coisa que pode salvar este mundo do caos político e do colapso é a adoração. A única esperança do mundo é a igreja e a única esperança da igreja é o retorno à adoração’. Deus precisa transformar o Seu povo e a Sua Igreja antes que Ele possa operar por meio de nós a fim de saciar as necessidades cruciais de um mundo perdido no pecado. Cada ministério da igreja deveria ser um subproduto da adoração. Ministério divorciado de adoração não tem raízes, portanto não pode produzir frutos que permaneçam.”
Finalmente, este trabalho tem dois objetivos: primeiro, motivar a reflexão sobre os princípios bíblicos da adoração, principalmente por parte dos presbíteros [pastores] da igreja e das pessoas envolvidas no ministério da música. Também, a incentivar a todos que persigamos a verdadeira adoração. O meu desejo é que a igreja e cada um dos seus membros desenvolvam uma fome e uma sede por Deus e pela Sua presença. “Como suspira a corça pelas correntes das águas, assim, por ti, ó Deus, suspira a minha alma. A minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo; quando irei e me verei perante a face de Deus?” (Salmos 42:1-2).
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Capítulo Primeiro
O Que Significa Adorar?
Nada é mais importante do que a adoração. Lutero disse: "Ter um Deus é adorar a Deus". Adorar a Deus é atribuir-lhe o valor de que é digno, conforme a palavra inglesa "worship" = "valor reconhecido". Frederick W. Robertsosn afirma: "Repito, o homem não tem opção para ser ou não ser um adorador. Um adorador ele não pode deixar de ser - a única questão é decidir o que ele vai adorar. Todo homem adora - pois é um adorador nato". Adorar a Deus. Esta é a nossa razão de ser como cristão e igreja. Pedro declara: "Também vós mesmos, como pedras que vivem, sois edificados casa espiritual para serdes sacerdócio santo, a fim de oferecerdes sacrifícios espirituais agradáveis a Deus por intermédio de Jesus Cristo." (I Pedro 2:5).
Por definição, a Igreja é uma comunidade de adoradores. Ela existe para adorar. Ela é uma casa espiritual, um sacerdócio santo e real. João afirma: "Àquele que nos ama, e, pelo seu sangue, nos libertou dos nossos pecados, e nos constituiu reino, sacerdotes para o seu Deus e Pai, a ele a glória e o domínio pelos séculos dos séculos. Amém!" (Apocalipse 1:5-6). "Adoração não é uma opção, é uma obrigação; não é luxo, é uma necessidade. Adorar a Deus e glorificá-lo é a única coisa que a igreja pode fazer e que nenhuma outra assembléia pode fazer. Não estou certo de que estejamos fazendo isto" diz Warren W. Wiersbe.
Quando adoramos ou cultuamos prestamos um serviço espiritual a Deus. Adorar é servir e trabalhar para Deus, em reconhecimento por tudo que Ele é e faz por nós. Adorar é obedecer a "convocação santa" de Deus.
Vejamos o vocabulário bíblico:
O vocabulário bíblico
Para alcançarmos uma visão correta sobre o culto a Deus precisamos examinar alguns termos usados pelos escritores bíblicos:
1 - "Latreia" - seu significado principal é "serviço" ou "culto". Denota o serviço prestado a Deus, pelo povo inteiro e pelo indivíduo, tanto externamente no ritual, como internamente no coração. Em outras palavras; é o serviço que se oferece à divindade através do Culto formal, ritualístico e por meio do oferecimento integral da vida (Êxodo 3:12; 10:3 e 7-8; Deuteronômio 6:13; Mateus 4:10; Lucas 1:74; 2:37; Romanos 12:1).
2 - "Leitourgia" - composto de duas palavras gregas, "povo" (laos) e "trabalho" (ergon), significa "serviço do povo’. No Antigo Testamento, aplicava-se ao serviço oferecido a Deus pelo Sacerdote, quando apresentava o holocausto sobre o altar de sacrifícios (Êxodo 36:1; Josué 22:27; I Crônicas 23:24,28). No Novo Testamento, aplica-se essencialmente ao serviço que Cristo oferece a Deus, pois ele é o nosso "Liturgos" (Hebreus 8:2,6): Em suma, "Liturgia" é o serviço que o pastor e toda a Igreja oferecem a Deus à semelhança do serviço realizado por Jesus (Romanos 15:16; Filipenses 2:17; Atos 13:2).
3 - "Proskunein’’ - originalmente, significava beijar’. No Antigo Testamento significa ‘curvar se", tanto para homenagear homens importantes e autoridades (Gênesis 27:29; I Samuel 25:23), como para "adorar" a Deus (Gênesis 24:52; II Crônicas 7:3; II Crônicas 29:29; Salmos 95:6). No Novo Testamento, denota exclusivamente a adoração que se dirige a Deus (Atos 10:25-26; Apocalipse 19:10; 22:8-9). Em seu emprego absoluto, significa "participar do Culto Público", "fazer orações", "entoar hinos" (João 12:20; Atos 8:27; 24:11; Apocalipse 4:8-11; 5:8-10; 19:1-7). Esta adoração compreende o ato externo e a atitude interna correspondente.
4 - Outros termos - os vocábulos ‘Eusebia"(piedade) e "Threskeia" (religião), aparecem no Novo Testamento para expressar a conduta do adorador (II Timóteo 3:12; Atos 26:5; Tiago 1:26): Quem adora mostra a sua devoção por meio de uma vida piedosa.
O elemento essencial da adoração
Concordamos plenamente com o Dr. Russel Shedd que aponta o amor como a essência da adoração. Quem ama adora o que ama. Onde estiver o seu tesouro ai estará o seu amor. A essência da adoração é o amor. É totalmente impossível adorar a Deus sem amá-lo. E Deus nunca se satisfez com menos que "tudo". Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma e de toda a tua força. (Deuteronômio 6:5; Mateus 22:37). "Sem o incentivo do amor por Deus, o culto não passa de palha, pura casca, isento de qualquer valor. Pode até se tornar em culto a satanás" (R. Shedd). Afirmamos, entretanto, que o culto verdadeiro requer amor de todo o coração, amor integral da mente e todo o nosso esforço.
Amor de Todo Coração
Para o Hebreu, o "Coração" é considerado a sede da mente e da vontade bem como das emoções. O termo "Alma" refere-se à fonte da vida e vitalidade (Gênesis 2:7,19), ou mesmo o próprio "ser". Estes dois termos indicam que o homem deve amar e adorar a Deus sem qualquer reserva em sua devoção. É no coração humano que Deus se revela (Atos 16:14; II Coríntios 4:4,6), portanto é com o coração que devemos expressar nosso amor por Ele.
Amor Integral da Mente
A adoração envolve também o exercício da mente. "Dianóia" em grego significa a capacidade de pensar e refletir religiosamente (I João 5:20; Efésios 4:18; Mateus 24:15). Este entendimento é dádiva divina (Lucas 24:25; Efésios 1:17-18). Portanto, a adoração deve ocupar a mente, de maneira a envolver a meditação e consciência do homem. Em Romanos 12:2, Paulo estabelece que o culto cristão deve ser racional ("logiken latreia"). Amar a Deus com entendimento é um desafio para o crente (Marcos 12:30).
Amor que exige todo nosso esforço
Na adoração cristã, Deus exige ser amado com toda a força do adorador (Marcos 12:30; Lucas 10:27 e Deuteronômio 6:5). O termo "Força"(Ischuos) se refere à força e poder de criaturas vivas (Hebreus 11:34); exige-se que o cristão gaste todas as suas energias físicas em atos de amor por Deus (Romanos 12:1; II Coríntios 2:15-16). O amor a Deus expressa-se no serviço prestado por meio do coração (I Coríntios 13:3). Portanto, amar a Deus com "Toda a força" representa gastar a vida e energia unicamente com expressões de lealdade e afeição a Deus.
A necessidade de adorar
Deus não necessita da nossa adoração. Ele é auto-existente e auto-suficiente. Quando O louvamos, não acrescentamos nada a Sua pessoa, porque grande é o Senhor. Jamais poderemos impressioná-Lo com pompa, pois "glória e majestade estão diante dEle, força e formosura, no seu santuário" (Salmos 96:6).
Nós é que precisamos adorar a Deus. A adoração é necessária pelas seguintes razões:
1 – Na adoração, o homem acha a razão da sua existência. Ele foi criado para a adoração. "O fim supremo e principal do homem é glorificar a Deus e gozá-lo para sempre" (Catecismo Maior da IPB). Fora da posição de adorador de Deus, o homem não encontra o sentido para vida (leia I Coríntios 10:31; Romanos 11:36).
2 – A adoração foi instituída e ordenada por Jesus Cristo. Como diz Karl Barth: "Na adoração, não somos chamados a expressar nossas necessidades ou possibilidades, mas sim a obedecer". Quando a Igreja se reúne para louvar, orar, pregar a palavra e celebrar os sacramentos, ela simplesmente obedece (Marcos 16:15-16; Atos 1:8; I Coríntios 11:24-25; Atos 20:7).
3 – A adoração é suscitada e expressa pelo Espírito Santo. A salvação provoca adoração (Atos 10:46). O perdão restaura a capacidade de adorar, anteriormente perdida por causa do pecado. Veja alguns exemplos: Lucas 5:25; 13:13; 17:15; 18:43; I Coríntios 12:3 e II Coríntios 1:22.
4 – A adoração é útil. Ela tem utilidade didática, sociológica e psicológica. No ato do culto aprendemos a ser cristãos. Ele é a escola por excelência do cristão. No culto há também coesão, integração e comunhão pessoal (I Coríntios 10:17; Atos 2:42-47). Por fim, o culto traz paz, descanso e cura para a alma dos fiéis.
A amplitude da adoração
A adoração segundo a Bíblia é ampla ou integral. Ela abrange não somente o momento do culto, mas envolve toda a vida do adorador. John Frame resume: "De certa forma, podemos dizer que toda a vida é culto. Isso não nega a importância e até mesmo a necessidade de comparecermos às reuniões da igreja (Hebreus 10:25). Mas o Senhor deseja que vivamos de tal maneira que todos os nossos atos rendam louvores a Deus".
No Antigo Testamento há várias exortações de Deus condenando o culto formal que não era acompanhado de uma vida integra, com a prática da justiça e o exercício da misericórdia. Vejamos alguns exemplos:
"Ouvi a palavra do SENHOR, vós, príncipes de Sodoma; prestai ouvidos à lei do nosso Deus, vós, povo de Gomorra. De que me serve a mim a multidão de vossos sacrifícios? diz o SENHOR. Estou farto dos holocaustos de carneiros e da gordura de animais cevados e não me agrado do sangue de novilhos, nem de cordeiros, nem de bodes. Quando vindes para comparecer perante mim, quem vos requereu o só pisardes os meus átrios? Não continueis a trazer ofertas vãs; o incenso é para mim abominação, e também as Festas da Lua Nova, os sábados, e a convocação das congregações; não posso suportar iniqüidade associada ao ajuntamento solene. As vossas Festas da Lua Nova e as vossas solenidades, a minha alma as aborrece; já me são pesadas; estou cansado de as sofrer. Pelo que, quando estendeis as mãos, escondo de vós os olhos; sim, quando multiplicais as vossas orações, não as ouço, porque as vossas mãos estão cheias de sangue. Lavai-vos, purificai-vos, tirai a maldade de vossos atos de diante dos meus olhos; cessai de fazer o mal. Aprendei a fazer o bem; atendei à justiça, repreendei ao opressor; defendei o direito do órfão, pleiteai a causa das viúvas." (Isaías 1:10-17)
O profeta Isaías sempre condenou o culto hipócrita: Isaías 29:13-16; 58:1-14. O ato restrito da adoração no templo deveria ser um reflexo ou a continuidade de uma vida santa e ética. Este assunto é tema em Malaquias 1 e 2, Oséias 2 e Amós 5. O profeta Miquéias resume bem: "Com que me apresentarei ao SENHOR e me inclinarei ante o Deus excelso? Virei perante ele com holocaustos, com bezerros de um ano? Agradar-se-á o SENHOR de milhares de carneiros, de dez mil ribeiros de azeite? Darei o meu primogênito pela minha transgressão, o fruto do meu corpo, pelo pecado da minha alma? Ele te declarou, ó homem, o que é bom e que é o que o SENHOR pede de ti: que pratiques a justiça, e ames a misericórdia, e andes humildemente com o teu Deus." (Miquéias 6:6-8).
No Novo Testamento o culto ganha uma dimensão ampla. Tudo que um cristão faz é culto. Ele não pode sair da presença de Deus, pois ele é santuário do Espírito Santo. Paulo declara: "Acaso, não sabeis que o vosso corpo é santuário do Espírito Santo, que está em vós, o qual tendes da parte de Deus, e que não sois de vós mesmos? Porque fostes comprados por preço. Agora, pois, glorificai a Deus no vosso corpo." (I Coríntios 6:19-20). Num sentido amplo, tudo que o cristão faz é culto (Romanos 12:1-2; Hebreus 13:15-16; Tiago 1:26-27). Paulo ensinando acerca da liberdade cristã diz: "Portanto, quer comais, quer bebais ou façais outra coisa qualquer, fazei tudo para a glória de Deus." (I Coríntios 10:31).
Jesus recomenda-nos: "Se, pois, ao trazeres ao altar a tua oferta, ali te lembrares de que teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa perante o altar a tua oferta, vai primeiro reconciliar-te com teu irmão; e, então, voltando, faze a tua oferta." (Mateus 5:23-24).
Os resultados da adoração
O objetivo da adoração é agradar a Deus. Quando o adoramos da maneira que Ele manda, somos também beneficiados espiritualmente. Muitas vezes vamos à igreja, participamos de um culto, e saímos como se nada tivesse acontecido. Mas será que a culpa está em Deus, ou no dirigente do culto ou em mim? Esta é uma pergunta que gera muitas discussões.
O certo e seguro, é que se o culto for agradável a Deus, Deus torna-se agradável ao adorador: "Agrada-te do Senhor e Ele satisfará os desejos do teu coração" (Salmos 37:4). Olhando para os exemplos de culto na Bíblia, podemos relacionar alguns resultados da adoração verdadeira:
1 – Cresce o nosso conhecimento e a nossa admiração por Deus (I Reis 8:23; Salmos 27:4; Lucas 5:9; 8:25; Apocalipse 1:9-20).
2 – Percebemos e sentimos a presença real de Deus em nosso meio e na nossa vida (Êxodo 40:34-38; II Crônicas 7:1-3).
3 – Tomamos consciência da nossa pecaminosidade e da nossa dependência da graça divina (Isaías 6:1-5; Lucas 18:9-14).
4 – Somos instruídos e orientados por Deus, por meio da Palavra (Neemias 8:1-12; II Reis 23:1-3).
5 – Recebemos salvação e libertação (II Crônicas 20:18-30; Mateus 15:21-28; Atos 12:1-11).
6 – Somos motivados à santificação e a consagração (Gênesis 28:18-22; Atos 13:1-3).
7 – Sentimos a necessidade de testemunhar e falar de Jesus (Atos 4:23-31).
Conclusão do capítulo
Concluímos este capítulo aprendendo cinco importantes lições:
1. Adorar é servir e não ser servido;
2. Adorar é um ato de amor que envolve a vida inteira do adorador;
3. Adorar é uma atitude interna que se expressa numa conduta externa.
4. Deus não precisa de adoração, mas nós precisamos adorá-Lo.
5. O principal resultado da adoração é a satisfação em agradar a Deus e fazer a Sua vontade.
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Capítulo Segundo
A Adoração no Antigo Testamento
Os cultos oferecidos pelos crentes no Antigo Testamento podem ser classificados em:
individual, familiar e congregacional ou coletivo.
Até a saída do Egito e a constituição da nação de Israel, predominou o culto individual, marcado por encontro ou revelações especiais de Deus a uma pessoa, culminando com a edificação de pequenos altares (Gênesis 8:20; 12:7-8; 13:18; 26:25; 28:18-22; 33:20; 35:7,14-15; Êxodo 3:2-5). Não era uma adoração formal ou ritualística. A adoração era espontânea, resultado de uma manifestação divina. O encontro de Deus com o adorador era, na sua maioria, por iniciativa de Deus e marcado por muita reverência e temor.
John Frame declara: "Esses encontros foram muito diferentes uns dos outros, mas há semelhanças importantes entre eles. Deus apresentava-se em sua majestade como Senhor. O adorador era tomado por um temor reverente. O controle, a autoridade e a presença do Senhor impunham-se com absoluta evidência. Sua força e o seu poder eram esmagadores; falava uma palavra de autoridade e revelava-se na presença do adorador. Este não permanecia o mesmo. Saía da experiência com uma nova missão: servir a Deus com renovada dedicação".
Até chegarmos ao Monte Sinai, examinaremos duas passagens bíblicas. Nelas encontraremos princípios permanentes sobre cultuar a Deus.
O culto que agrada a Deus (Gênesis 4:1-7)
O primeiro culto oferecido a Deus registrado no A.T. foi realizado pelos irmãos Caim e Abel. O texto registra: "Coabitou o homem com Eva, sua mulher. Esta concebeu e deu à luz a Caim; então, disse: Adquiri um varão com o auxílio do SENHOR. Depois, deu à luz a Abel, seu irmão. Abel foi pastor de ovelhas, e Caim, lavrador. Aconteceu que no fim de uns tempos trouxe Caim do fruto da terra uma oferta ao SENHOR. Abel, por sua vez, trouxe das primícias do seu rebanho e da gordura deste. Agradou-se o SENHOR de Abel e de sua oferta; ao passo que de Caim e de sua oferta não se agradou. Irou-se, pois, sobremaneira, Caim, e descaiu-lhe o semblante. Então, lhe disse o SENHOR: Por que andas irado, e por que descaiu o teu semblante? Se procederes bem, não é certo que serás aceito? Se, todavia, procederes mal, eis que o pecado jaz à porta; o seu desejo será contra ti, mas a ti cumpre dominá-lo." (Gênesis 4:1-7).
Quatro princípios aprendemos neste texto:
1 – O objetivo do culto é agradar a Deus. E sem fé é impossível agradá-Lo (Hebreus 11:6). O culto oferecido por Abel foi por meio da fé (Hebreus 11:4).
2 – O culto que agrada a Deus é uma expressão da vida de quem oferece. Deus agradou-se de Abel e de sua oferta e desgradou-se de Caim e de sua oferta (confira I João 3:12; Hebreus 11:4).
3 – Devemos oferecer o melhor a Deus. Abel ofertou das primícias do seu rebanho (Confira Deuteronômio 26:1-11).
4 – Deus recompensa os adoradores. Deus diz para Caim que ele seria aceito caso procedesse bem. Ser aceito por Deus é a maior bênção que uma pessoa pode receber (Levítico 22:29; Isaías 56:7).
O cântico de Moisés e dos filhos de Israel (Êxodo 15:1-21)
Moisés e todos os filhos de Israel celebraram coletivamente a saída do Egito, efetivada pelo triunfo sobre Faraó e o seu exército. Aquela celebração é considerada um ato espontâneo de adoração. Eles não estavam cumprindo uma ordem de Deus ou seguindo um ritual. A salvação ou a libertação concedida por Deus gerou adoração (Salmos 40:1-3).
A passagem pode ser dividida em duas partes: 15:1-18, o cântico de Moisés e dos filhos de Israel; 15:19-21, o cântico entoado por Miriã e todas as mulheres.
1 Então cantou Moisés e os filhos de Israel este cântico ao SENHOR, e falaram, dizendo: Cantarei ao SENHOR, porque gloriosamente triunfou; lançou no mar o cavalo e o seu cavaleiro.
2 O SENHOR é a minha força, e o meu cântico; ele me foi por salvação; este é o meu Deus, portanto lhe farei uma habitação; ele é o Deus de meu pai, por isso o exaltarei.
3 O SENHOR é homem de guerra; o SENHOR é o seu nome.
4 Lançou no mar os carros de Faraó e o seu exército; e os seus escolhidos príncipes afogaram-se no Mar Vermelho.
5 Os abismos os cobriram; desceram às profundezas como pedra.
6 A tua destra, ó SENHOR, se tem glorificado em poder, a tua destra, ó SENHOR, tem despedaçado o inimigo;
7 E com a grandeza da tua excelência derrubaste aos que se levantaram contra ti; enviaste o teu furor, que os consumiu como o restolho.
8 E com o sopro de tuas narinas amontoaram-se as águas, as correntes pararam como montão; os abismos coalharam-se no coração do mar.
9 O inimigo dizia: Perseguirei, alcançarei, repartirei os despojos; fartar-se-á a minha alma deles, arrancarei a minha espada, a minha mão os destruirá.
10 Sopraste com o teu vento, o mar os cobriu; afundaram-se como chumbo em veementes águas.
11 Ó SENHOR, quem é como tu entre os deuses? Quem é como tu glorificado em santidade, admirável em louvores, realizando maravilhas?
12 Estendeste a tua mão direita; a terra os tragou.
13 Tu, com a tua beneficência, guiaste a este povo, que salvaste; com a tua força o levaste à habitação da tua santidade.
14 Os povos o ouviram, eles estremeceram, uma dor apoderou-se dos habitantes da Filistia.
15 Então os príncipes de Edom se pasmaram; dos poderosos dos moabitas apoderou-se um tremor; derreteram-se todos os habitantes de Canaã.
16 Espanto e pavor caiu sobre eles; pela grandeza do teu braço emudeceram como pedra; até que o teu povo houvesse passado, ó SENHOR, até que passasse este povo que adquiriste.
17 Tu os introduzirás, e os plantarás no monte da tua herança, no lugar que tu, ó SENHOR, aparelhaste para a tua habitação, no santuário, ó Senhor, que as tuas mãos estabeleceram.
18 O SENHOR reinará eterna e perpetuamente;
19 Porque os cavalos de Faraó, com os seus carros e com os seus cavaleiros, entraram no mar, e o SENHOR fez tornar as águas do mar sobre eles; mas os filhos de Israel passaram em seco pelo meio do mar.
20 Então Miriã, a profetiza, a irmã de Arão, tomou o tamboril na sua mão, e todas as mulheres saíram atrás dela com tamboris e com danças.
21 E Miriã lhes respondia: Cantai ao SENHOR, porque gloriosamente triunfou; e lançou no mar o cavalo com o seu cavaleiro.
Este trecho narra o primeiro ato de culto a Deus, prestado pelo Seu povo após a saída do Egito. Ele contém alguns princípios importantes acerca da adoração.
1 – Quem são os participantes deste culto? Moisés e os filhos de Israel, isto é, participam do culto todos aqueles que saíram do Egito, e passaram a pé enxuto pelo mar vermelho. São os resgatados ou redimidos do Senhor. "Então cantou Moisés e os filhos de Israel este cântico ao SENHOR, e falaram, dizendo." (Êxodo 15:1). Adorar a Deus é um privilégio exclusivo dos seus filhos.
2 – Quem é o objeto do culto? Deus, o SENHOR é o receptor e o assunto deste ato de adoração. "Cantarei ao SENHOR ..." (v. 2) Os vinte e um versos que compõem esta canção são todos sobre o que Deus é e fez. Eles cantam a Deus e sobre Deus. Esta é a principal característica do culto verdadeiro. Deus é o tema e o objeto do nosso culto.
3 – Qual é a razão ou intenção deste culto? Naquela ocasião de conquista, quando Faraó foi derrotado com todo o seu exército, a pessoa de Deus estava sendo exaltada. Deus é a razão de qualquer ato de adoração. A intenção do adorador deve ser a exaltação do nome do SENHOR!
Deus é superior a Faraó e ao poderoso exército do Egito - 15:2-10
Deus é incomparável em Glória, Santidade e Poder - 15:11-12
Deus conduzirá o seu povo para um lugar especial - 15:13-17
Deus é o Rei Eterno - 15:18-19
Destaque: A dança das mulheres
Os dois últimos versículos narram o cântico de Miriam: "A profetisa Miriã, irmã de Arão, tomou um tamborim, e todas as mulheres saíram atrás dela com tamborins e com danças. E Miriã lhes respondia: Cantai ao SENHOR, porque gloriosamente triunfou e precipitou no mar o cavalo e o seu cavaleiro." (Êxodo 15:20-21)
Primeiro, Miriã é identificada com uma profetisa (Juízes 4:4). Na época de Davi, os músicos profetizavam por meio da música: "Quanto à família de Jedutum, os filhos: Gedalias, Zeri, Jesaías, Hasabias e Matitias, seis, sob a direção de Jedutum, seu pai, que profetizava com harpas, em ações de graças e louvores ao SENHOR." (I Crônicas 25:3).
Segundo, o cântico de Miriã reproduz uma prática da época. As mulheres normalmente cantavam e dançavam por ocasião de vitórias militares (I Samuel 18:6; 21:11; 29:5; Juízes 11:34). No período da restauração de Israel, época de Esdras e Neemias, as mulheres foram incluídas como cantoras do templo (Esdras 2:65; Neemias 7:67).
O cântico de Miriã nada acrescenta ao cântico litúrgico de Moisés e dos filhos de Israel: "Cantai ao SENHOR, porque gloriosamente triunfou e precipitou no mar o cavalo e o seu cavaleiro." (15:21). A dança praticada por Miriã e pelas mulheres não foi um ato de culto e nem foi incorporada no culto do Antigo Testamento.
A adoração nos Dez Mandamentos
Três meses após a saída do Egito, Deus faz uma aliança com Israel: "Agora, pois, se diligentemente ouvirdes a minha voz e guardardes a minha aliança, então, sereis a minha propriedade peculiar dentre todos os povos; porque toda a terra é minha; vós me sereis reino de sacerdotes e nação santa. São estas as palavras que falarás aos filhos de Israel. Veio Moisés, chamou os anciãos do povo e expôs diante deles todas estas palavras que o SENHOR lhe havia ordenado. Então, o povo respondeu a uma: Tudo o que o SENHOR falou faremos. E Moisés relatou ao SENHOR as palavras do povo." (Êxodo 19:5-8).
Israel torna-se um reino de sacerdotes e uma nação santa (I Pedro 2:9-10; Apocalipse 1:6; 5:10; 20:6). E uma das ocupações principais do povo de Deus é a adoração. Os primeiros princípios para a adoração a Deus aparecem na lei moral. Em Êxodo 20:1-17 temos os "Dez Mandamentos". Os quatro primeiros mandamentos referem-se ao relacionamento do homem com Deus. Destacaremos os dois primeiros mandamentos:
"Então, falou Deus todas estas palavras: Eu sou o SENHOR, teu Deus, que te tirei da terra do Egito, da casa da servidão. Não terás outros deuses diante de mim. Não farás para ti imagem de escultura, nem semelhança alguma do que há em cima nos céus, nem embaixo na terra, nem nas águas debaixo da terra. Não as adorarás, nem lhes darás culto; porque eu sou o SENHOR, teu Deus, Deus zeloso, que visito a iniqüidade dos pais nos filhos até à terceira e quarta geração daqueles que me aborrecem e faço misericórdia até mil gerações daqueles que me amam e guardam os meus mandamentos." (Êxodo 20:1-6).
Dois princípios para o culto são estabelecidos:
1 – Não terás outros deuses diante de mim. A Quem devemos adorar? Adoremos a Deus! O Deus da Bíblia é o único Deus e Ele abomina o culto a outro deus (Isaías 48:11). A expressão "diante de mim" significa literalmente "perante a minha face" ou "na minha presença". Deus é zeloso e reivindica adoração exclusiva.
2 – Não farás para ti imagem de escultura. Como devemos adorar? Não devemos adorar a Deus pela nossa imaginação, mas de acordo com a Sua revelação escrita – a Bíblia. Qualquer imagem é uma projeção da mente humana e uma deturpação da verdadeira identidade de Deus.
As Escrituras delineiam, conforme J.MacArthur Jr., pelo menos quatro categorias inaceitáveis de culto:
Cultuar falsos deuses: a humanidade pecadora rejeita o Deus verdadeiro e se volta de forma irresistível ao culto falso. (Romanos 1:21,23).
Cultuar de forma errada o Deus verdadeiro: Os teólogos de Westminster declaram que "o modo aceitável de adorar o verdadeiro Deus é instituído por Ele mesmo e é tão limitado pela Sua própria vontade revelada, que Ele não pode ser adorado segundo as imaginações e invenções dos homens, de qualquer outro modo não prescrito nas Santas Escrituras" (veja Deuteronômio 12:32; Mateus 15:9; Atos 17:24-25; Êxodo 20:4-5; Colossenses 2:20-23).
Cultuar à nossa própria maneira o Deus Verdadeiro: Cultuar a Deus à nossa maneira constitui-se uma abominação. Em se tratando de culto, tudo o que as Escrituras não ordenam expressamente é proibido (Deuteronômio 4:2; 12:32). Há muita coisa sendo introduzida ao culto hoje, que Deus não estabelece em Sua Palavra. É tradição humana (Mateus 15:3). A base do culto é a Bíblia.
Cultuar com atitude errada: O culto verdadeiro requer o envolvimento total do adorador Devemos oferecer o melhor para Deus. Não podemos tratar o culto com irreverência, desrespeito e desprezo. Deus odeia e abomina o culto que é prestado com atitudes erradas. Leia com atenção: Amós 5:21-24; Oséias 6:4-6; Isaías 1:11-15.
A adoração na lei cerimonial
Israel era o povo da Aliança. Deus revelou a Israel três leis que regulamentariam a aliança. Estas leis são classificadas em Lei Moral, Lei Civil e Lei Cerimonial.
O "modus operandi" do culto está na Lei Cerimonial, resumida no Código Sacerdotal (livro de Levítico). Deus regulamentou cada detalhe do culto e o livro de Levítico começa assim: "Chamou o SENHOR a Moisés e, da tenda da congregação lhe disse: Fala aos filhos de Israel e dize-lhes." (Levítico 1:1). Observe que o livro é o registro de instruções dadas diretamente por Deus a Moisés (Êxodo 25:9), de dentro do Tabernáculo (Êxodo 40:34-38; Hebreus 8:5). Nada no culto a Deus foi copiado das nações pagãs e a marca fundamental do culto a Deus é a santidade. Seis características do culto santo:
Era oferecido ao Deus Santo
O atributo da santidade de Deus é o princípio determinante da adoração. "Disse o SENHOR a Moisés: Fala a toda a congregação dos filhos de Israel e dize-lhes: Santos sereis, porque eu, o SENHOR, vosso Deus, sou santo." (Levítico 19:1-2). Veja também Josué 24:19; I Samuel 6:20; Isaías 6:1-3; Salmos 99. A santidade de Deus é o atributo que delineia a adoração na Velha Aliança.
A santidade de Deus pode ser definida como "aquela perfeição de Deus em virtude da qual Ele eternamente determina e mantém a Sua própria excelência moral, aborrece o pecado, e exige pureza de suas criaturas morais" (L. Berkhof).
Era oferecido por intermédio de oferta santa
A oferta por meio dos holocaustos ou sacrifícios foram estabelecidos pelo Senhor. Os sacrifícios eram a base da santificação. Por meio deles realizavam-se a propiciação dos pecados, e três lições eram ensinadas: primeira, o pecado ofendia a Deus e desencadeava a sua ira e punição - o salário do pecado é a morte; segunda, a ira de Deus era suspensa ou a sua justiça propiciada, somente através do sacrifício cruento - sem o derramamento de sangue não há remissão de pecado; terceira, todos os sacrifícios e ofertas eram tipos do único sacrifício que tira o pecado e estabelece a nossa comunhão com Deus - o sacrifício de Jesus (Levítico 17:11; João 1:29; Hebreus 9:25-26; 10:5-7,14).
A exigência fundamental da oferta de holocausto era que fosse "sem defeito": "Se a sua oferta for holocausto de gado, trará macho sem defeito" (Levítico 1:3). Somente animais domésticos sem nenhum defeito deveriam ser oferecidos. Deus rejeitou o culto com ofertas defeituosas (Malaquias 1:12-14).
Era oferecido num lugar/espaço santo
Ao regulamentar o culto no Antigo Testamento, Deus estabeleceu um lugar central para a adoração. "Guarda-te, não ofereças os teus holocaustos em todo lugar que vires; mas, no lugar que o SENHOR escolher numa das tuas tribos, ali oferecerás os teus holocaustos e ali farás tudo o que te ordeno." (Deuteronômio 12:13-14) O lugar onde Deus se revelava foi chamado de "terra santa" (Êxodo 3:5; Atos 7:33).
O tabernáculo (Êxodo 25:8; 29:31) e o templo (Salmos 79:1; Isaías 64:11) foram os lugares separados para o culto.
Era oferecido por pessoas santas
O povo de Israel foi identificado como "povo santo": "Porque sois povo santo ao SENHOR, vosso Deus, e o SENHOR vos escolheu de todos os povos que há sobre a face da terra, para lhe serdes seu povo próprio." (Deuteronômio 14:2).
Dentre o povo escolhido, Deus escolheu aqueles que iriam trabalhar no serviço do culto: os levitas (Números 1:47-54; 3:1-39), e família de Arão, para o sacerdócio (Êxodo 28:1-2; Levítico 8:1-36).
Quando Davi organizou o ministério da música no Templo, as famílias de Asafe, Hemã e Jedutum foram escolhidas para dirigir os cantores e músicos (I Crônicas 25).
Era oferecido em tempo santo
O tempo santo já foi estabelecido por Deus no quarto mandamento por meio da guarda do sábado (Êxodo 20:8-11). Ele também estabeleceu as "festas santas": "Disse o SENHOR a Moisés: Fala aos filhos de Israel e dize-lhes: As festas fixas do SENHOR, que proclamareis, serão santas convocações; são estas as minhas festas." (Levítico 23:1-2). As festas eram em número de sete: festa da páscoa, festa dos pães asmos, festa das primícias, festa do pentecostes ou festa das semanas, festa das trombetas, o "dia da expiação" e a festa dos tabernáculos (Levítico 23:3-44). Além destas festas, os judeus guardavam "O ano sabático" e o "ano do Jubileu" (Levítico 25).
Era oferecido em objetos santos
O culto era oferecido usando objetos denominados de "coisas santas": "Havendo, pois, Arão e seus filhos, ao partir o arraial, acabado de cobrir o santuário e todos os móveis dele, então, os filhos de Coate virão para levá-lo; mas, nas coisas santas, não tocarão, para que não morram; são estas as coisas da tenda da congregação que os filhos de Coate devem levar." (Números 4:15).
Todos os objetos e utensílios usados no culto eram exclusivos, separados do uso comum para uso especial. A profanação do culto deu-se principalmente com a profanação das pessoas, do tempo e das coisas santas: "Os seus sacerdotes transgridem a minha lei e profanam as minhas coisas santas; entre o santo e o profano, não fazem diferença, nem discernem o imundo do limpo e dos meus sábados escondem os olhos; e, assim, sou profanado no meio deles." (Ezequiel 22:26).
Em síntese, o culto da velha aliança é prestado ao Deus Santo, por meio de oferta santa, por pessoas santas, em tempos e lugares santos, utilizando objetos santos. A profanação do culto e as suas trágicas conseqüências fizeram parte da história de Israel, no período que vai de Moisés até Malaquias.
Acidentes relacionados ao culto
O código sacerdotal exigia obediência irrestrita aos mandamentos cerimoniais. Qualquer transgressão de um princípio cerimonial desencadeava o julgamento punitivo de Deus. Vejamos alguns exemplos:
Fogo estranho – Nadabe e Abiú eram dois filhos consagrados de Arão (Êxodo 24:1). Eles foram reprovados por Deus quando ofereceram fogo estranho ao Senhor. (Levítico 10:1-3).
A rejeição de Saul – Saul desobedeceu ao mandamento de Deus ao assumir as funções sacerdotais de Samuel. O rei jamais poderia assumir a função sacerdotal. (I Samuel 13:13-14) Saul repete o mesmo erro desobedecendo ao mandamento de Deus, justificando que a sua intenção era boa: sacrificar o melhor para Deus.Porém Samuel disse: "Tem, porventura, o SENHOR tanto prazer em holocaustos e sacrifícios quanto em que se obedeça à sua palavra? Eis que o obedecer é melhor do que o sacrificar, e o atender, melhor do que a gordura de carneiros. Porque a rebelião é como o pecado de feitiçaria, e a obstinação é como a idolatria e culto a ídolos do lar. Visto que rejeitaste a palavra do SENHOR, ele também te rejeitou a ti, para que não sejas rei." (I Samuel 15:22-24).
Davi e Uzá – Quando Davi resolveu trazer a Arca para Jerusalém, deveria ter obedecido aos mandamentos de transporte da arca (Êxodo 25:14; Números 4:1-6). Davi, porém, colocou a arca num "carro de bois". Os animais tropeçaram e Uzá foi segurar a arca, quando foi ferido pelo Senhor (I Crônicas 13:9-14). Davi aprendeu a lição que somente os levitas poderiam transportar a arca, segundo o mandamento cerimonial (I Crônicas 15:1-3).
Os reis de Israel e Judá – O sucesso dos reis de Israel e Judá sempre esteve relacionado ao culto a Deus. A profanação do sagrado sempre foi duramente castigada pelo Senhor:
·Reino Norte:
Jeroboão - I Reis 12:25-33; 13:1-10,33-34; I Reis 16:2,19,26,30-33;
Acabe – I Reis 21:25-26;
Jeú - II Reis 10:16,28-31;
Oséias – II Reis 17:1-23,29-41.
·Reino Sul:
Roboão - I Reis 14:21-31;
Asa - I Reis 15:12-14;
Josafá - I Reis 22:43; II Crônicas 17:3-4; I Reis 22:46;
Jeorão - II Crônicas 21:5-20; 22:11-12;
Joás - II Crônicas 24:19-21;
Acaz - II Crônicas 28:1-4; 22-25;
Ezequias - II Crônicas 29-31.
A adoração nos Salmos
O livro dos Salmos é um livro de adoração. São cento e cinqüenta composições musicais que formam o "Hinário de Israel". Os judeus chamam-no de "o livro de louvores". A palavra "Salmos" (mizmer - hebraico), significa "cânticos".
O livro dos Salmos está estruturado em cinco livros:
Livro I - do 1 a 41;
Livro II - 42 a 72;
Livro III - do 73 a 89;
Livro IV - 90 a 106;
Livro V - do 107 a 150.
Cada livro é encerrado com uma doxologia de adoração a Deus.
Os autores dos Salmos são diversos:
Davi 75,
Asafe 12;
Moisés 1,
Hemã 1;
Etã 1; e
60 são anônimos.
O livro dos Salmos começa apontando o segredo da felicidade: "Bem-aventurado o homem que não anda no conselho dos ímpios, não se detém no caminho dos pecadores, nem se assenta na roda dos escarnecedores. Antes, o seu prazer está na lei do SENHOR, e na sua lei medita de dia e de noite." (Salmos 1:1-2). E é encerrado com uma exortação: "Todo ser que respira louve ao Senhor. Aleluia!" (Salmos 150:6).
É possível construirmos uma teologia da adoração a partir do livro dos Salmos?
Observamos nos Salmos uma teologia do culto que enfatiza mais o aspecto da adoração espiritual, do que a sacrifical. A última sem a primeira é totalmente vã. Apesar de os autores estarem ligados ao culto cerimonial levítico (Salmos 20:3; 51:19; 66:13-15), eles afirmam que o cerimonial não tem valor se não vier acompanhado de uma vida piedosa (Salmos 40:6; 51:16). Deus se agrada de uma vida reta (Salmos 15), do louvor e gratidão (Salmos 50:14,23), do espírito quebrantado (Salmos 51:16-17), da obediência sincera (Salmos 40:6-8) de uma vida comprometida com a Palavra de Deus (Salmos 1 e Salmos 119).
Examinaremos dois Salmos que falam da adoração no templo e fora dele.
Salmo 100
1 Celebrai com júbilo ao SENHOR, todas as terras.
2 Servi ao SENHOR com alegria; e entrai diante dele com canto.
3 Sabei que o SENHOR é Deus; foi ele que nos fez, e não nós a nós mesmos; somos povo seu e ovelhas do seu pasto.
4 Entrai pelas portas dele com gratidão, e em seus átrios com louvor; louvai-o, e bendizei o seu nome.
5 Porque o SENHOR é bom, e eterna a sua misericórdia; e a sua verdade dura de geração em geração.
Este salmo é chamado de "hino de ingresso ao templo". É um convite para adoração coletiva:
Conceito de adoração: Adoração é celebração (fazer ou promover, comemorar, festejar), serviço (exercer a função de servo) e apresentação ( a + presentear = pôr diante, à vista ou na presença de) (v. 1).
O objeto da adoração: o objeto da adoração é o SENHOR (v. 1, 2, 3 e 5). Adoração somente a Deus.
Os adoradores: "Todas as terras". Profeticamente, o salmista fala da igreja com pessoas de toda raça e nação. "E todos os reis se prostrem perante ele; todas as nações o sirvam." (Salmos 72:11).
Como devemos adorar: com júbilo, com alegria, com cânticos, com ações de graças e com hinos de louvor. São sacrifícios de louvor e ações de graças (Salmos 107:22; 116:17; I Crônicas 16:31). A natureza do culto cristão é a alegria, que se expressa por meio da música que brota de um coração alegre e agradecido. Deus é feliz e deseja adoradores felizes (Deuteronômio 30:9; Salmos 16:11; Sofonias 3:17; Lucas 15:5-6,23,32).
Por que devemos adorar: o fundamento do culto verdadeiro é o conhecimento de quem é Deus: "Sabei que o SENHOR é Deus" (v. 3). Jesus disse que nós adoramos o que conhecemos (João 4:22). Quem é Deus? O salmista responde: Ele é o Criador, Ele é o nosso Pastor, Ele é bom, Ele é Misericordioso e Ele é Fiel. Observe que as razões da adoração acham-se em Deus, naquilo que Ele é e faz.
Onde devemos adorar: O salmista convida-nos a adorar no templo. As expressões "entrai por suas portas" e "nos seus átrios" indicam o templo (Salmos 84).
SALMO 150
1 Aleluia! Louvai a Deus no seu santuário; louvai-o no firmamento do seu poder.
2 Louvai-o pelos seus atos poderosos; louvai-o conforme a excelência da sua grandeza.
3 Louvai-o com o som de trombeta; louvai-o com o saltério e a harpa.
4 Louvai-o com o tamborim e a dança, louvai-o com instrumentos de cordas e com órgãos.
5 Louvai-o com os címbalos sonoros; louvai-o com címbalos altissonantes.
6 Tudo quanto tem fôlego louve ao SENHOR. Aleluia!
Se o salmo 100 fala do louvor da igreja, no templo, o Salmo 150 fala do louvor cósmico, universal, extensivo a toda criação. Ele é a doxologia universal que encerra o livro dos Salmos. É uma exortação para que todo ser que respire louve ao Senhor.
Onde louvar (v. 1): "Louvai a Deus no seu santuário; louvai-o no firmamento, obra do seu poder." A Bíblia fala dos "santuários de Deus": "Ó Deus, tu és tremendo nos teus santuários." (Salmos 68:35). A idéia aqui é de que Deus deve ser louvado onde Ele se fizer presente. "Santuário" e "firmamento" indicam que Deus deve ser louvado até onde o seu poder se estende (I Reis 8:39,43). No Salmo 148, o louvor a Deus brota "do alto dos céus" – anjos, legiões celestes, sol, lua, estrelas luzentes, céus dos céus, e águas que estão acima do firmamento (v. 1-6) "e da terra" – monstros marinhos, todos os abismos, fogo e saraiva, neve e vapor, ventos procelosos, montes, outeiros, árvores frutíferas, cedros, feras, gados, répteis, voláteis, reis da terra, todos os povos, príncipes, juízes, rapazes, donzelas, velhos, crianças e o povo de Deus . (v. 7-14).
Por que louvar (v.2): "Louvai-o pelos seus poderosos feitos; louvai-o consoante a sua muita grandeza." Temos aqui duas razões fundamentais para a adoração. O que Deus faz (seus feitos) e o que Deus é (grandioso). Estas duas razões são a base da adoração na Bíblia e aparecem muitas vezes nos Salmos. (Salmos 117; 95; 107; 146).
Com que louvar (v. 3-5): "Louvai-o ao som da trombeta; louvai-o com saltério e com harpa. Louvai-o com adufes e danças; louvai-o com instrumentos de cordas e com flautas. Louvai-o com címbalos sonoros; louvai-o com címbalos retumbantes."
O texto fala de louvor com instrumentos musicais. Instrumentos de sopro, instrumentos de corda e instrumentos de percussão. O louvor com instrumentos é especificamente para o homem.
Um ponto muito discutido aqui é o significado do termo "dança" (machowal). "Louvai-o com adufes e danças". Esta expressão aparece também no Salmo 149:3.
Primeiro, alguns estudiosos questionam a tradução da palavra "machowal" como "dança". Defende-se que "machowl" deriva de "chuwl" que significa "fazer uma abertura", uma possível alusão a um instrumento de "tubos", uma espécie de "órgão".
Na realidade esta é a versão de rodapé dada pela King James Version. O Salmo 149:3 declara: "Louvem-lhe o nome com danças" [ou "com órgão", no rodapé da KJV]. Em Salmos 150:4 lemos: "Louvai-O com adufes e com danças" [ou "órgão", rodapé da KJV].
Segundo, é de fato estranho que no meio de uma relação de instrumentos,apareça uma "expressão física". Observe que em ambos os textos, Salmos 149:3 e 150:4, o termo ocorre no contexto de uma lista de instrumentos a serem usados no louvor ao Senhor. No Salmo 150 a lista possui oito instrumentos: trompete, saltério, harpa, adufes, instrumentos de corda, órgãos, címbalos sonoros, címbalos retumbantes (KJV). É mais lógica a tradução de machowal como um instrumento musical, seja qual for a sua natureza.
A palavra hebraica mechowlah é traduzida como dança sete vezes. Em cinco das sete ocorrências a dança é feita por mulheres na celebração de uma vitória militar (I Samuel 18:6; 21:11; 29:5; Juízes 11:34; Êxodo 15:20). Miriam e as mulheres dançaram para celebrar a vitória sobre o exército egípcio (Êxodo 15:20). A filha de Jefté dançou para celebrar a vitória de seu pai sobre os amonitas (Juízes 11:34). Mulheres dançaram para celebrar a matança dos Filisteus por Davi (I Samuel 18:6; 21:11; 29:5).
Nas duas ocorrências restantes, mechowlah é usada para descrever a dança dos Israelitas, nus, ao redor do bezerro de ouro (Êxodo 32:19) e a dança das filhas de Siló nas vinhas (Juízes 21:21). Em nenhum destes exemplos a dança é parte de um serviço de adoração.
Quem deve louvar (v. 6): "Todo ser que respira louve ao SENHOR. Aleluia!" A exortação é para todos: animais, aves, répteis ou todos aqueles "em que há o fôlego da vida", incluindo o homem. (Gênesis 1:30; 2:7). Sabemos que a fauna e a flora compõem-se de seres vivos (ou que respiram). "Todo ser" = todo ser criado, criatura (Gênesis 7:22 e Apocalipse 5:13). A criação animada e inanimada louva ao Senhor. (Salmos 96:11-13; 98:8; 103:22; 104:12; Isaías 44:23).
Chegamos ao final deste capítulo com alguns princípios sobre adoração:
Primeiro, a adoração verdadeira é somente para Deus e deve ser prestada com o objetivo de agradá-lo.
Segundo, a adoração que agrada a Deus é uma extensão da vida do adorador. O cumprimento de um ritual só é aceito por Deus, se vier acompanhado de uma conduta piedosa e justa.
Terceiro, é Deus quem estabelece a maneira ou como Ele quer ser adorado. E uma exigência fundamental de Deus é a excelência. Ele quer o melhor.
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Capítulo Terceiro
A Adoração na Nova Aliança
Cremos que o ensino do culto na Bíblia acompanha uma simultaneidade a revelação progressiva de Deus, culminando com Jesus Cristo. "Mas vem a hora e já chegou, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque são estes que o Pai procura para seus adoradores. Deus é espírito; e importa que os seus adoradores o adorem em espírito e em verdade." (João 4:23-24). Logo, ao estudarmos acerca do culto, precisamos considerar as diferenças entre o culto no Antigo Testamento e no Novo Testamento, isto é, o culto antes de Cristo e depois de Cristo. O conceito de culto relaciona-se diretamente com a doutrina da Aliança.
A nova aliança
A palavra "aliança", "diathéke", no grego, significa "pacto", "concerto", ou "testamento". É por meio de uma aliança que Deus declara a sua vontade soberana e estabelece a sua maneira graciosa de se relacionar conosco. Sem as alianças, não haveria relacionamento do homem com Deus.
A adoração no Antigo Testamento, na velha aliança, foi temporária, imperfeita e apenas uma sombra da adoração que seria estabelecida por Jesus, na Nova Aliança: "Porque, se aquela primeira aliança tivesse sido sem defeito, de maneira alguma estaria sendo buscado lugar para uma segunda." (Hebreus 8:7). O sistema sacrifical era "sombra" ou "parábola": "É isto uma parábola para a época presente; e, segundo esta, se oferecem tanto dons como sacrifícios, embora estes, no tocante à consciência, sejam ineficazes para aperfeiçoar aquele que presta culto, os quais não passam de ordenanças da carne, baseadas somente em comidas, e bebidas, e diversas abluções, impostas até ao tempo oportuno de reforma." (Hebreus 9:9-10).
A adoração cristã fundamenta-se na Nova Aliança: "Quando, porém, veio Cristo como sumo sacerdote dos bens já realizados, mediante o maior e mais perfeito tabernáculo, não feito por mãos, quer dizer, não desta criação, não por meio de sangue de bodes e de bezerros, mas pelo seu próprio sangue, entrou no Santo dos Santos, uma vez por todas, tendo obtido eterna redenção. Portanto, se o sangue de bodes e de touros e a cinza de uma novilha, aspergidos sobre os contaminados, os santificam, quanto à purificação da carne, muito mais o sangue de Cristo, que, pelo Espírito eterno, a si mesmo se ofereceu sem mácula a Deus, purificará a nossa consciência de obras mortas, para servirmos ao Deus vivo!" (Hebreus 9:11-14).
Jesus Cristo veio. Ele é a base da Nova Aliança. Quais foram as mudanças na adoração?
Jesus Cristo é o único, perfeito e eterno sumo sacerdote de Deus (Hebreus 5:1-7).
Jesus Cristo realizou o único, definitivo, perfeito e eficaz sacrifício para tirar os pecados do seu povo (Hebreus 9:11-28). Ele põe fim aos sacrifícios da Antiga Aliança.
Jesus Cristo é o cumprimento de toda a lei cerimonial. Ele é o tabernáculo (João 1:14; 2:19-22), Ele é o Cordeiro de Deus (Hebreus 10:1-18) e Ele é o novo mediador entre Deus e os homens (I Timóteo 2:5).
Está franqueada ao crente a comunhão com Deus, pelo novo e vivo caminho aberto por Jesus Cristo (Hebreus 10:19-22). "Portanto, ofereçamos sempre por Ele (Jesus Cristo) a Deus sacrifício de louvor" (Hebreus 13:15a). O culto cristão ou na Nova Aliança apresenta as seguintes características:
O culto cristão é oferecido a Deus, como expressão de fé (Hebreus 10:38; 11:6; 13:15).
O culto cristão é mediado por Jesus Cristo, um sumo sacerdote que se identifica com os adoradores (Hebreus 2:12-13; João 17:24; Mateus 18:20).
O culto cristão é aceito por Deus, porque Cristo fez de seus seguidores sacerdotes de Deus. (Apocalipse 1:5-6; 5:8-10; I Pedro 2:9).
O culto cristão é o envolvimento total da vida do adorador. (Romanos 12:1-2).
O culto cristão não deve ser profanado, mas oferecido com reverência e temor (Hebreus 10:28-31; 12:28-29).
A adoração que agrada a Deus
O culto precisa ser agradável a Deus. Os sacrifícios feitos no Antigo Testamento subiam como "aroma agradável a Deus" (Levítico 1:9,13,17; Números 15:3; 28:6). O adjetivo "agradável" também é aplicado no culto do Novo Testamento. "Rogo-vos, pois, irmãos, pelas misericórdias de Deus, que apresenteis o vosso corpo por sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional." (Romanos 12:1). A idéia de Paulo é que o culto cristão é a oferta da nossa vida como um sacrifício agradável a Deus, semelhante aos sacrifícios do Antigo Testamento.
É a mesma idéia utilizada para descrever a oferta dos filipenses: "Recebi tudo e tenho abundância; estou suprido, desde que Epafrodito me passou às mãos o que me veio de vossa parte como aroma suave, como sacrifício aceitável e aprazível a Deus." (Filipenses 4:18). Veja outros textos: Romanos 14:18; 15:16 e Hebreus 12:28.
A adoração que agrada a Deus possui algumas características:
1 – Fundamenta-se no conhecimento: Jesus esclarece: "Vós adorais o que não conheceis; nós adoramos o que conhecemos, porque a salvação vem dos judeus." (João 4:22). A adoração verdadeira baseia-se no conhecimento. Deus só pode ser adorado se for conhecido. O salmista convoca o povo de Deus para adoração dizendo: "Sabei que o SENHOR é Deus; foi ele quem nos fez, e dele somos; somos o seu povo e rebanho do seu pastoreio." (Salmos 100:3). Quando conhecemos quem Deus é e aquilo que Ele faz, somos motivados a adorá-Lo. Confira: Salmos 106:1; 107:1; 118:1; 136:1.
O apóstolo Paulo ensinou este princípio aos Atenienses: "Porque, passando e observando os objetos de vosso culto, encontrei também um altar no qual está inscrito: AO DEUS DESCONHECIDO. Pois esse que adorais sem conhecer é precisamente aquele que eu vos anuncio." (Atos 17:23). Paulo descreve, então, quem Deus é o que Ele fez e fará (Atos 17:24-31). Há uma frase em latim que sintetiza esta verdade: Lex credendi, lex orandi (aquilo em que cremos, determina como oramos).
Este conhecimento é de natureza espiritual e possível somente por meio de Jesus: "Tudo me foi entregue por meu Pai. Ninguém conhece o Filho, senão o Pai; e ninguém conhece o Pai, senão o Filho e aquele a quem o Filho o quiser revelar." (Mateus 11:27).
2 – É em espírito e em verdade
O texto fundamental para compreendermos o conceito de culto no Novo Testamento é o de João 4:20-24: "Nossos pais adoravam neste monte; vós, entretanto, dizeis que em Jerusalém é o lugar onde se deve adorar. Disse-lhe Jesus: Mulher, podes crer-me que a hora vem, quando nem neste monte, nem em Jerusalém adorareis o Pai. Vós adorais o que não conheceis; nós adoramos o que conhecemos, porque a salvação vem dos judeus. Mas vem a hora e já chegou, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque são estes que o Pai procura para seus adoradores. Deus é espírito; e importa que os seus adoradores o adorem em espírito e em verdade." (João 4:20-24).
A verdadeira adoração inaugurada por Jesus Cristo é "em espírito e em verdade". O que significa isso?
"Em Espírito" significa:
A adoração é interna e do coração. Não se prende mais a lugares sagrados, pois o crente é santuário de Deus (I Coríntios 6:19-20; I Pedro 2:5).
A adoração é simples. Não se prende mais aos rituais da lei cerimonial (Hebreus 10:19-22).
A adoração é reverente. A reverência e um santo temor e respeito à pessoa de Deus (Hebreus 12:28).
A adoração é no Espírito Santo (Filipenses 3:3). Ninguém pode adorar sem a ajuda do Espírito Santo (I Coríntios 12:3).
"Em Verdade" significa:
A adoração deve ser de acordo com a Bíblia. Ela está limitada a aquilo que é autorizado pela Escritura.
A adoração deve ser sincera, sem falsidade. Veracidade é contrário ao formalismo exterior (Mateus 15:8-9).
Sacrifícios espirituais
Este texto apresenta um contraste entre o culto no Antigo Testamento e o culto do Novo Testamento: "Chegando-vos para ele, a pedra que vive, rejeitada, sim, pelos homens, mas para com Deus eleita e preciosa, também vós mesmos, como pedras que vivem, sois edificados casa espiritual para serdes sacerdócio santo, a fim de oferecerdes sacrifícios espirituais agradáveis a Deus por intermédio de Jesus Cristo." (I Pedro 2:4-5).
Primeiro, o culto é fruto da união do crente com Cristo. Ele é a Pedra viva, eleita e preciosa, e os crentes são pedras vivas.
Segundo, a igreja é uma "casa espiritual" em contraste com o templo do Antigo Testamento.
Terceiro, todo crente verdadeiro é um sacerdote de Deus, no sentido de ter acesso a Deus.
Quarto, os sacrifícios são espirituais em contraste com o sistema sacrifical do Antigo Testamento.
Quinto, os sacrifícios de adoração são agradáveis a Deus por meio de Jesus Cristo. O sacrifício de Jesus e a sua intercessão torna cada crente aceitável a Deus, juntamente com o seu culto.
A mesma idéia é repetida pelo o autor aos Hebreus : "Por meio de Jesus, pois, ofereçamos a Deus, sempre, sacrifício de louvor, que é o fruto de lábios que confessam o seu nome. Não negligencieis, igualmente, a prática do bem e a mútua cooperação; pois, com tais sacrifícios, Deus se compraz." (Hebreus 13:15-16 ).
O culto na Nova Aliança:
É por natureza um oferecimento: "...ofereçamos..."
É dirigido a Deus: "...ofereçamos a Deus..."
É mediado por Jesus Cristo: "Por meio de Jesus..."
É um sacrifício espiritual: "...sacrifício de louvor..."
É expressão de um novo estado espiritual: "...é fruto de lábios que confessam o seu nome."
É confessional: "...confessam o seu nome."
É ininterrupto: "...sempre..."
É acompanhado por atos de amor fraternal: "Não negligencieis, igualmente, a prática do bem e a mútua cooperação; pois, com tais sacrifícios, Deus se compraz."
Adoração Racional
O Novo Testamento apresenta cinco tipos de culto:
vão ou inútil (Mateus 15:7-9);
ignorante (Atos 17:22-23);
"de si mesmo" (Colossenses 2:20-23);
o culto verdadeiro (João 4:20-24);
e o culto racional (Romanos 12:1).
Paulo declara: "Rogo-vos, pois, irmãos, pelas misericórdias de Deus, que apresenteis o vosso corpo por sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional." (Romanos 12:1). A expressão "culto racional" (grego = "logiken latreian") significa culto lógico e inteligível. O culto cristão requer entendimento: "Porque, se eu orar em outra língua, o meu espírito ora de fato, mas a minha mente fica infrutífera. Que farei, pois? Orarei com o espírito, mas também orarei com a mente; cantarei com o espírito, mas também cantarei com a mente." (I Coríntios 14:14-15).
O Salmo 150 diz: "todo ser que respira louve ao Senhor." Os animais, as plantas e os homens respiram. Cada um, porém, é de uma espécie diferente. O homem, ser racional, deve louvar a Deus utilizando-se da sua mente.
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Capítulo Quatro
Os Elementos do Culto Cristão
Os elementos do culto são os meios usados pelo adorador para expressar o culto. São as "formas e funções por meio das quais a recepção ea ação litúrgica se efetivam e, mediante sua cooperação orgânica, suscitam e expressam o evento cultual" (O. Haendler).
No Antigo Testamento todos os elementos do culto são detalhadamente apresentados por Deus, no Código Sacerdotal. O tabernáculo com todos os seus móveis, os sacrifícios, os sacerdotes (roupas, funções etc.) e as festas e cerimônias religiosas. Nada poderia ser alterado, mas obedecido rigorosamente.
O Novo Testamento, porém, não apresenta de forma explícita os elementos do culto. Em Atos 2:42: "E perseveravam na doutrinados apóstolos e na comunhão, no partir do pão e nas orações." Este texto esclarece que o ensino da Palavra, a oração, a comunhão e a celebração da Santa Ceia eram os elementos do culto apostólico.
No culto carismático de Corinto, Paulo busca organizar oculto: "Que fazer, pois, irmãos? Quando vos reunis, um tem salmo, outro,doutrina, este traz revelação, aquele, outra língua, e ainda outro,interpretação. Seja tudo feito para edificação." (I Coríntios 14:26).
O consenso bíblico e teológico é que os elementos de culto são: a Bíblia, a oração, a música, os sacramentos e as ofertas.
O Catecismo de Heidelberg usado pelas Igrejas Reformadas, diz que o cristão deve "freqüentar assiduamente à Igreja, para ouvire aprender a Palavra de Deus, participar dos Sacramentos, invocar publicamente ao Senhor e contribuir para as necessidades".
Reflitamos, portanto, sobre os elementos do culto e a sua utilização hoje.
A Bíblia Sagrada
A Bíblia é a Palavra de Deus. Ela é o elemento mais importante do culto cristão, pois "todo ato cristão de adoração é sustido pela Palavra de Deus. Sem ela o culto esvaziar-se-ia de sua substância e perderia o traço que o separa de um culto não cristão" (J.V. Allmen). As verdades bíblicas devem modelar o ato de culto, bem como as idéias e o comportamento do adorador(I Samuel 15:22-23; Mateus 15:9).
A Bíblia aparece no culto sob diversas formas. As principais são a leitura (individual, conjunta e alternada), a pregação, o canto(congregacional, coral, conjuntos e solos) e as saudações e bênçãos pastorais (I Timóteo 4:13; I Tessalonicenses 5:27; Apocalipse 1:3; I Coríntios 11:23-29; Lucas 4:16-30; II Coríntios 13:13-14).
A oração
Orar é cumprir uma ordem do Senhor (Lucas 18:1 e I Tessalonicenses 5:17). Ela é indispensável ao cristão, que deve praticá-la individualmente e coletivamente (Mateus 6:5-8 e Atos 12:12). A oração é "o privilégio supremo dos cristãos, concedido por Deus ao elevá-los a categoria de filhos. A oração só é possível dentro da família de Deus: é o exercer os direitos de filhos no contexto dessa família (Romanos 8:15 e Gálatas 4:6). Os filhos são herdeiros, participantes responsáveis, por conseguinte, de toda a economia da família. Na família do Pai os filhos têm o direito de tomar apalavra. A oração é, portanto, a autorização que Deus dá a que os filhos digam o que têm a dizer com referência aos assuntos que a Ele dizem respeito" (citado por V. Allmen).
A Bíblia nos ensina que a oração faz parte do culto particular e público. As orações nas reuniões da Igreja devem ser uma constante hoje; como foi no passado (Atos 1:14; Atos 4:24; Atos 12:12; Atos 21:5; Lucas 1:10; Mateus 18:19). As mesmas devem ser dirigidas a Deus (Mateus 4:10), por meio e em nome de Jesus Cristo (Efésios 2:18; Hebreus 10:19), acompanhadas de humildade e ação de graças (Gênesis 18:27; Filipenses 4:6; Colossenses 4:2). Podem ser feitas em silêncio e audivelmente, nas posturas diversas (Marcos 11:25; Atos 20:36; Mateus 26:39; I Timóteo 3:8).
A música
A música também se destaca como um elemento indispensável ao culto. A Igreja sempre usou hinos e cânticos na expressão do seu culto (Romanos 15:9; I Crônicas 14:15; Efésios 5:19; Colossenses 3:16; Tiago 5:13; Apocalipse 5:9; Apocalipse 14:13; Mateus 26:30).
O professor Bill Ichter, autoridade em música, descreve algumas características da música que deve ser usada na Igreja:
a. Deve expressar uma verdade bíblica.
b. Deve expressar doutrinas corretas.
c. Deve ser caracteristicamente devocional.
d. Deve possuir boa forma literária.
e. Deve ter um bom estilo musical.
f. Deve ser apropriada à ocasião em que estiver sendo usada.
g. Deve ser adaptada ao uso da congregação.
h. Deve ser apropriada e ao alcance da capacidade dos cantores.
O apóstolo Paulo nos revela que música na Igreja deve ser composta dos "salmos, hinos e cânticos espirituais", entoados para o louvor a Deus e a edificação mútua dos irmãos (Colossenses 3:16). Os três termos mostram que a música deve ser de vários estilos musicais. Cuidado: não é qualquer música que deve ser utilizada na Igreja, principalmente no ato de culto.
Os sacramentos
"Os sacramentos são santos sinais e selos do pacto da Graça, imediatamente instituídos por Deus, para representar Cristo e os seus benefícios e confirmar o nosso interesse nele, bem como para fazer uma diferença visível entre os que pertencem à Igreja e o resto do mundo, e solenemente obrigá-los ao serviço de Deus em Cristo, segundo a sua palavra"(C. Fé, cap.XXVII, 1). Esta definição nos mostra que o sacramento é "um sinal externo de uma graça interna".
Há somente dois sacramentos instituídos por Jesus: O Batismo e a Santa Ceia (Mateus 28:19 e Mateus 26:26-30). Ambos devem ser celebrados publicamente administrados somente pelos pastores ordenados (Hebreus 5:4).
Ofertório
O ato de ofertar ou contribuir faz parte do culto. O ofertar sempre foi um elemento integrante da adoração a Deus e uma expressão de fidelidade (Deuteronômio 12:4-7; Malaquias 3:10; Marcos 12:41-44; II Crônicas 8:5; Hebreus 13:16).
"Ninguém se iluda: o reino de Deus não se edifica com dinheiro, mas com pessoas. Após o novo nascimento, contudo, não devemos deixar de dar o dízimo. Não é a Igreja que precisa de dinheiro, como às vezes dizemos. Nós é que precisamos trazer dinheiro à Igreja: nosso progresso espiritual depende disso - II Coríntios 9:5,10" (B.Ribeiro).
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Capítulo Cinco
A Música no Culto
"Deus reina! O seu trono é estabelecido em louvores. Logo, música de adoração é eterna. Ela já existia antes da criação. Deus declara a Jó: Onde estavas tu, quando eu lançava os fundamentos da terra? Dize-me, se tens entendimento. Quem lhe pôs as medidas, se é que o sabes? Ou quem estendeu sobre ela o cordel? Sobre que estão fundadas as suas bases ou quem lhe assentou a pedra angular, quando as estrelas da alva, juntas, alegremente cantavam, e rejubilavam todos os filhos de Deus?" (Jó 38:4-7).
A música nasceu na eternidade e continuará existindo após o fim da História. Davi declara: "Nós, porém, bendiremos o SENHOR, desde agora e para sempre. Aleluia!" (Salmos 115:18).
A música é um instrumento de louvor a Deus, um meio de expressão e um poderoso meio de influência. Para Parcival Módulo, a música tem, pelo menos, dois papéis importantes no culto:
O Papel de Impressão - a música cria um ambiente próprio, uma atmosfera que mexe com as pessoas envolvidas no culto.
O Papel da Expressão - a música expressa aquilo que cremos, os ensinos da Palavra de Deus. E isso acontece quando a música diz alguma coisa junto com o texto, quando ela endossa e subsidia o texto.
1 – A música no Antigo Testamento
A música é entoada pela criação em reconhecimento a pessoa de Deus e a sua providência. A criação animada e inanimada canta ao Senhor. (Salmos 96:11-13; 98:8; 103:22; 104:12; Isaías 44:23).
A música é entoada por pessoas, pelo povo de Deus (Salmos 30:4; Salmos 95:1; Salmos 100).
A música foi instituída no culto por Deus, no reinado de Davi (II Crônicas 29:25). É consenso entre os estudiosos da música, que o ministério de música foi instituído por Davi, logo após sua investidura como rei de Israel, sendo, portanto, bíblico: "São estes os que Davi constituiu para dirigir o canto na Casa do SENHOR, depois que a arca teve repouso. Ministravam diante do tabernáculo da tenda da congregação com cânticos, até que Salomão edificou a Casa do SENHOR em Jerusalém; e exercitavam o seu ministério segundo a ordem prescrita." (I Crônicas 6:31-32).
Vejamos algumas informações extraídas da Bíblia, acerca do Ministério da Música.
Origem e organização
O rei Davi foi quem introduziu a música no culto do Antigo Testamento. Sabemos que ele fez isso com a autorização de Deus: "Também estabeleceu os levitas na Casa do SENHOR com címbalos, alaúdes e harpas, segundo mandado de Davi e de Gade, o vidente do rei, e do profeta Natã; porque este mandado veio do SENHOR, por intermédio de seus profetas." (II Crônicas 29:25).
Podemos constatar na bíblia, que Davi organizou um ministério de música, em três etapas:
Ele ordenou aos chefes das famílias levíticas que designassem uma orquestra e um coro para acompanharem o transporte da arca até a tenda em Jerusalém (I Crônicas 15:16-24).
Após a colocação da Arca na tenda, em seu palácio (I Crônicas 15:1-3), Davi determinou o canto na hora do sacrifício (I Crônicas 16:4-6, 37-42). Um grupo cantava diante da Arca, sob a liderança de Asafe (I Crônicas 16:37) e outro grupo cantava diante do altar em Gibeão, sob a liderança de Hemã e Jedutum (I Crônicas 16:41-42).
A última etapa da organização do ministério de música por Davi, aconteceu no final de seu reinado quando ele estruturou a música que seria utilizada no templo de Salomão que seria realizado no templo que Salomão construiria (I Crônicas 23:2-26:32).
Vejamos um esboço do ministério de música organizado por Davi:
Ele criou um conjunto com 4.000 levitas (I Crônicas 23:5)
Ele fabricou instrumentos para uso no culto (I Crônicas 23:5; II Crônicas 7:6; 29:25-27)
Ele selecionou 288 músicos mestres"instruídos no canto do Senhor". Foram 24 líderes, que se responsabilizavam por 12 músicos = 288 (I Crônicas 25:1-7).
Ele compunha os hinos que eram entoados pelos cantores (I Crônicas 16:7-36)
Características do ministério
O Ministério de Música organizado por Davi estava fundamentado em princípios espirituais, que devem ser aplicados pela igreja hoje. Utilizarei como texto básico I Crônicas 25.
Era um ministério
O texto inicia dizendo: "Davi, juntamente com os chefes do serviço, separou para o ministério..." (25:1). O termo ministério (hebraico = sharath) era usado para expressar a idéia de ministração profissional ou sacerdotal. No Novo Testamento, o termo característico é diakonia ou um serviço que deve ser prestado a Deus e aos irmãos (Mateus 20:28; Marcos 10:45). Jesus é o referencial ou o exemplo de servo.
O músico é alguém vocacionado para um serviço especial: "São estes os que Davi constituiu para dirigir o canto na Casa do SENHOR, depois que a arca teve repouso. Ministravam diante do tabernáculo da tenda da congregação com cânticos, até que Salomão edificou a Casa do SENHOR em Jerusalém; e exercitavam o seu ministério segundo a ordem prescrita." (I Crônicas 6:31-32).
É importante destacar que na teologia do Novo Testamento não existe uma casta sacerdotal de levitas. Cada crente é um sacerdote e o serviço sacerdotal é aplicado ao corpo de crentes como um todo (Filipenses 2:17; I Pedro 2:9).
Era um ministério composto por pessoas separadas/
"Davi, juntamente com os chefes do serviço, separou para o ministério..." (25:1). O integrante do ministério era alguém separado. Três eram os critérios de separação:
Ser levita
O levita era alguém escolhido por Deus para o ministério sacerdotal. Davi reconhece: "Então, disse Davi: Ninguém pode levar a arca de Deus, senão os levitas; porque o SENHOR os elegeu, para levarem a arca de Deus e o servirem para sempre." (I Crônicas 15:2). Os levitas serviam com dedicação exclusiva: "Quanto aos cantores, cabeças das famílias entre os levitas, estavam alojados nas câmaras do templo e eram isentos de outros serviços; porque, de dia e de noite, estavam ocupados no seu mister." (I Crônicas 9:33). Para isso, precisavam ser sustentados pelos dízimos do povo de Deus. (Números 18:24-26; Neemias 12:44-47; 13:5,10-12).
Ser competente
Os músicos levitas eram musicalmente competentes. Lemos: "O número deles, juntamente com seus irmãos instruídos no canto do SENHOR, todos eles mestres, era de duzentos e oitenta e oito." (I Crônicas 25:7). Lemos em I Crônicas 15:22 que: "Quenanias, chefe dos levitas músicos, tinha o encargo de dirigir o canto, porque era perito nisso." Ele se tornou o líder da música porque era um músico hábil e capaz de instruir a outros. O conceito de habilidade musical é mencionado várias vezes na Bíblia (I Samuel 16:18; II Crônicas 34:12; Salmos 137:5; I Coríntios 14:15).
A produção musical no AT era tarefa para pessoas altamente competentes: "Deu também Deus a Salomão sabedoria, grandíssimo entendimento e larga inteligência como a areia que está na praia do mar. Era a sabedoria de Salomão maior do que a de todos os do Oriente e do que toda a sabedoria dos egípcios. Era mais sábio do que todos os homens, mais sábio do que Etã, ezraíta, e do que Hemã, Calcol e Darda, filhos de Maol; e correu a sua fama por todas as nações em redor. Compôs três mil provérbios, e foram os seus cânticos mil e cinco." (I Reis 4:29-32). Hemã, Asafe e Etã autores dos Salmos 73-83; 88-89.
Ser santo
O levita é alguém eleito, competente e santo ou qualificado espiritualmente. Davi declarou: "E lhes disse: Vós sois os cabeças das famílias dos levitas; santificai-vos, vós e vossos irmãos, para que façais subir a arca do SENHOR, Deus de Israel, ao lugar que lhe preparei. Pois, visto que não a levastes na primeira vez, o SENHOR, nosso Deus, irrompeu contra nós, porque, então, não o buscamos, segundo nos fora ordenado. Santificaram-se, pois, os sacerdotes e levitas, para fazerem subir a arca do SENHOR, Deus de Israel." (I Crônicas 15:12-14).
Era um ministério organizado
Davi organizou o ministério estabelecendo um "modus operandi". Os seus integrantes tinham papéis definidos e deveres estabelecidos:
O ministério tinha comando: "Davi, juntamente com os chefes do serviço..." (25:1). Os músicos trabalhavam sob a direção de encarregados e "debaixo das ordens do rei" (25:2). Os filhos cantavam e tocavam debaixo da autoridade familiar: "Todos estes estavam sob a direção respectivamente de seus pais, para o canto da Casa do SENHOR, com címbalos, alaúdes e harpas, para o ministério da Casa de Deus, estando Asafe, Jedutum e Hemã debaixo das ordens do rei." (I Crônicas 25:6).
Os músicos tinham funções e deveres: Eles trabalhavam em lugares determinados e em turnos. "Deitaram sortes para designar os deveres, tanto do pequeno como do grande, tanto do mestre como do discípulo." (I Crônicas 25:8). Uns tocavam e cantavam defronte da arca e outros diante do tabernáculo. (I Crônicas 6:31-32).
Os músicos não tocavam qualquer instrumento: Davi não instituiu apenas o tempo, o lugar, e as músicas para a apresentação do coro levítico, mas ele também "fez" os instrumentos musicais para serem usados no seu ministério (I Crônicas 23:5; II Crônicas 7:6). É por isso que eles são chamados "os instrumentos de Davi" (II Crônicas 29:26-27). Além das trombetas que o Senhor tinha ordenado por Moisés, Davi acrescentou címbalos, alaúdes, e harpas (I Crônicas 15:16; 16:5-6). A importância desta combinação de instrumentos como sendo uma ordem divina é indicada pelo fato de que esta combinação foi respeitada por muitos séculos, até a destruição do Templo. (II Crônicas 29:25).
O ministério tinha objetivos: A música era tocada e cantada com três objetivos:
1. Louvar e adorar: "Designou dentre os levitas os que haviam de ministrar diante da arca do Senhor, e celebrar, e louvar, e exaltar o Senhor, Deus de Israel". (I Crônicas 16:4) Os três verbos usados neste texto - "celebrar", "louvar", e "exaltar" indicam que o ministério da música visava à adoração a Deus.
2. Profetizar: "Quanto à família de Jedutum, os filhos: Gedalias, Zeri, Jesaías, Hasabias e Matitias, seis, sob a direção de Jedutum, seu pai, que profetizava com harpas, em ações de graças e louvores ao SENHOR." (I Crônicas 25:2). Os músicos exerciam uma função profética por intermédio da música (I Crônicas 25:3; II Crônicas 20:14-17; 24:19-22; 29:30; 35:15).
3. Ensinar: Instruir era uma dos objetivos dos ministérios da música: "Disse aos levitas que ensinavam a todo o Israel e estavam consagrados ao SENHOR: Ponde a arca sagrada na casa que edificou Salomão, filho de Davi, rei de Israel; já não tereis esta carga aos ombros; servi, pois, ao SENHOR, vosso Deus, e ao seu povo de Israel." (II Crônicas 35:3).
O apóstolo Paulo resume estes três objetivos do ministério levítico, no ministério de cada cristão, no corpo de Cristo: "Habite, ricamente, em vós a palavra de Cristo; instruí-vos e aconselhai-vos mutuamente em toda a sabedoria, louvando a Deus, com salmos, e hinos, e cânticos espirituais, com gratidão, em vosso coração." (Colossenses 3:16).
Creio que estes princípios que encontramos no Ministério de Música instituído por Davi aplicam-se a igreja hoje. Somos uma comunidade de "sacerdotes santos" e "sacerdotes reais" (I Pedro 2:5,9).
2 – A música no Novo Testamento
Com o advento do Messias, a maior manifestação da graça de Deus, a música volta a fazer parte do culto e da vida cotidiana do povo de Deus. Atenilde Cunha declara: "Depois de um silêncio de quatrocentos anos entre os céus e a Palestina, a música volta a aparecer como serva fiel da religião, fazendo-se cumprir as palavras cantadas pelo salmista: "E pôs um novo Cântico na minha boca, um hino ao nosso Deus; muitos verão isso e temerão e confiarão no Senhor" (Salmos 40:3). Os novos cânticos da graça e do amor, brotaram nos corações dos escolhidos como prenunciadores das novas de Salvação: "Magnificat" (Lucas 1:46-55), "Benedictus" (Lucas 1:68-79), "Glória in Excelsis Deo" (Lucas 2:14) e "Nunc Dimits" (Lucas 2:29-32). E a partir de então, os corações dos crentes romperam em cânticos, pela experiência da graça de Cristo, como jamais cantaram e deixariam de cantar. Conforme o testemunho de Plínio (109 AD.), cristianismo passou a ser chamado "a religião do canto".
A música no culto cristão:
1. Era música vocal
A música entoada pelos primeiros cristãos era sem o acompanhamento de instrumentos musicais. Jesus e os discípulos cantaram um hino: "E, tendo cantado um hino, saíram para o monte das Oliveiras." (Mateus 26:30; Marcos 14:26). Paulo e Silas: "Por volta da meia-noite, Paulo e Silas oravam e cantavam louvores a Deus, e os demais companheiros de prisão escutavam." (Atos 16:25).
Outras referências:
Romanos 15:9 - "Cantarei louvores ao teu nome"
I Coríntios 14:15 - "Cantarei com o espírito, mas também cantarei com a mente"
Efésios 5:19 - "Entoando e louvando de coração ao Senhor"
Colossenses 3:16 - "Com gratidão em vossos corações"
Hebreus 2:12 - "Cantar-te-ei louvores no meio da congregação"
Tiago 5:13 - "Está alguém alegre? Cante louvores".
Nestas passagens do Novo Testamento não aparecem o cântico com o acompanhamento de instrumentos musicais. Isto tem levado a muitos a interpretar que a música no culto cristão não deve ser acompanhada por instrumentos. Eles entendem que tal prática fazia parte da lei cerimonial que foi abolida por Cristo (Salmos 81:1-4).
Entendo, porém, que prevalece a orientação divina dada a Davi (II Crônicas 29:25). Se a música continua sendo um elemento de adoração no culto, sendo possível, que a mesma seja acompanha por instrumentos musicais.
2. Era música variada
Paulo declara: "Habite, ricamente, em vós a palavra de Cristo; instruí-vos e aconselhai-vos mutuamente em toda a sabedoria, louvando a Deus, com salmos, e hinos, e cânticos espirituais, com gratidão, em vosso coração." (Colossenses 3:16).
Este versículo apresenta uma variedade de formas: salmos, hinos e cânticos espirituais. Alguns têm interpretado estes termos como sinônimos, ou seja, trata de uma única forma. Concordo, porém, com o John Macarthur Jr, que diz: "Paulo estava exigindo uma variedade de formas musicais e uma amplitude de expressão espiritual que não podia ser encaixada em um único estilo musical". Há visões desequilibradas na igreja que desejam limitar a música no culto a uma única forma (Somente hinos ou somente cânticos espirituais).
Os salmos seriam as músicas do livro dos Salmos do Antigo Testamento (Lucas 24:44). Os hinos seriam composições recentes de cânticos de louvor dirigidos a Cristo, os quais aparecem no texto do Novo Testamento (Efésios 5:14; I Timóteo 3:16; Filipenses 2:6-11; Colossenses 1:15-20; Hebreus 1:3). Os cânticos espirituais seriam, provavelmente, os cânticos produzidos pelo Espírito Santo nos adoradores (I Coríntios 14:15).
3. Era música espiritual
A expressão "cântico espiritual" aponta para cânticos sobre assuntos espirituais e cânticos resultados da experiência espiritual do povo de Deus. A música para Paulo está relacionada com a Palavra de Deus – "Habite, ricamente, em vós a Palavra de Cristo" (Colossenses 3:16) – e com a vida cheia do Espírito Santo – "Mas enchei-vos do Espírito, falando entre vós com salmos, entoando e louvando de coração, ao Senhor com hinos e cânticos espirituais" (Efésios 5:18-19).
Nove vezes aparece na Bíblia a expressão "novo cântico". Sete vezes no Antigo Testamento (Salmos 33:3; 40:3; 96:1; 98:1; 144:9; 149:1; Isaías 42:10) e duas vezes no Novo Testamento (Apocalipse 5:9 e 14:3). A expressão "novo cântico" não indica uma nova composição, mas uma música que surge de uma nova experiência com Deus.
A origem desta música é divina, vem de Deus: "E me pôs nos lábios um novo cântico, um hino de louvor ao nosso Deus" (Salmos 40:3). Somente as "novas criaturas" poderão entoá-la: "E ninguém pode aprender o cântico, senão os cento e quarenta e quatro mil que foram comprados na terra" (Apocalipse 14:3).
4. Era música com funções espirituais
Observe o que diz Paulo: "Habite, ricamente, em vós a palavra de Cristo; instruí-vos e aconselhai-vos mutuamente em toda a sabedoria, louvando a Deus, com salmos, e hinos, e cânticos espirituais, com gratidão, em vosso coração." (Colossenses 3:16). O mandamento apostólico é de que a música tem uma função didática, de instruir e aconselhar (exortar).
Outra função é a de louvar a Deus - "louvando a Deus". "Falando entre vós com salmos, entoando e louvando de coração ao Senhor com hinos e cânticos espirituais, dando sempre graças por tudo a nosso Deus e Pai, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo." (Efésios 5:19-20)
Paulo ainda apresenta outro objetivo: edificação. "Que fazer, pois, irmãos? Quando vos reunis, um tem salmo, outro, doutrina, este traz revelação, aquele, outra língua, e ainda outro, interpretação. Seja tudo feito para edificação" (I Coríntios 14:26). Instruir, louvar e edificar devem ser os objetivos da música no culto.
Concluindo, precisamos perguntar: Qual é a música apropriada para adoração na Igreja?
As respostas dadas a esta pergunta são controversas. Creio que precisamos definir critérios bíblicos que ajudarão a selecionar a música a ser utilizada no culto.
Sugiro os seguintes critérios:
Quanto ao objetivo principal da música deve ser agradar a Deus. Cantemos ao Senhor. Há também os objetivos secundários: instruir, edificar, consolar, proclamar, aconselhar e promover a unidade da igreja.
Quanto à origem deve ser do coração e da mente regenerada pelo Espírito Santo. Cantemos com a mente e com o espírito.
Quanto ao estilo musical deve ser variado. Os extremos de só cantar hino ou só entoar cânticos espirituais servem apenas para referendar estilos de cultos (tradicional ou contemporâneo) e divisões na igreja (velhos e jovens).
Quanto ao conteúdo da música deve ser bíblico ou de acordo com a sã doutrina. A poesia musical deve refletir aquilo que ensina a Palavra de Deus.
Quanto a sua execução deve ser com excelência. Deus merece o melhor e exige o melhor. Excelência significa o "melhor que for possível". Excelência é a união da simplicidade com a profundidade, ou da humildade com a competência.
Quanto aos resultados, a música deve promover: uma visão elevada de Deus, a edificação espiritual e a santidade pessoal dos que cantam.
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Capítulo Seis
Dança no Culto
Muitas igrejas hoje introduziram a dança como meio de adoração. Muitos irmãos sinceros e com motivações verdadeiras defendem a "dança do elogio" ou a "dança do louvor". Há igrejas que usam grupos coreográficos para expressar louvor e adoração.
Os principais argumentos são:
Adorar a Deus por meio da dança é bíblico: Salmos 149:3 e 150:4. Leia o que já escrevemos em "Adoração nos Salmos".
A dança foi praticada por servos de Deus, no Antigo Testamento: Miríã e Davi (Êxodo 15:19-21; I Crônicas 15:19).
A dança pode ser praticada no culto, pois não existe nenhuma proibição bíblica. E se não é proibido, é permitido.
Entendo que o melhor caminho é o da exegese bíblica para resolvermos este assunto. Não podemos analisar textossomente com o pretexto de defendermos uma posição pessoal.
Primeiro, não encontramos base bíblica no Novo Testamento para introduzirmos dança na adoração coletiva. Creio que com a drástica mudança que houve do culto cerimonial para o culto "em verdade e em espírito", se a dança fosse algo fundamental seria destacada por Jesus, pelos apóstolos ou pelos escritores bíblicos.
A palavra grega "orcheomai" = "dança" refere-se à dança praticada por crianças e a dança sexual praticada pela filha de Herodias (Lucas 7:32; Marcos 6:22; Mateus 11:17; e 14:6).
Outra palavra grega é "choros" = dança em círculos (choir) ou um grupo de dança. No caso de Lucas 15:25, "choros" vem acompanhado de "sinfonia", uma banda de músicos e cantores. O contexto não é de culto ou adoração a Deus.
A palavra grega "aggaliao" = regozijar-se grandemente, exultar descreve uma alegria demonstrativa (Lucas 1:14,44,47; Mateus 5:12; João 5:35; Atos 16:34; I Pedro 1:6,8).
O termo "hallomai" = saltar, pular, saltitar refere-se a uma postura física sempre relacionada a uma cura (Atos 3:8; 14:10).
O termo "skirtao" = estremecer, pular, saltar de alegria refere-se a atitude de João Batista no ventre de Isabel, ao ouvir a saudação de Maria (Lucas 1:41,44; 6:23).
Todas as referências sobre dança no NT não estão relacionadas ao culto ou adoração. A dança era essencialmente uma celebração social de eventos especiais, como uma vitória militar, um festival religioso, ou uma reunião familiar. Era praticada principalmente por mulheres e crianças ou grupos específicos.
Segundo, no Antigo Testamento várias palavras são usadas para descrever a dança. Nenhuma delas relaciona-se com o culto de adoração a Deus, no tabernáculo ou no templo. Davi dançou "diante do Senhor" (II Samuel 6:14,16), contudo, não foi autorizado por Deus a introduzir a dança no culto. As mulheres dançavam celebrando vitórias militares (I Samuel 18:6; 21:11; 29:5; Juízes 11:34).
É importante destacar os princípios da Hermenêutica Bíblica aplicados à interpretação de narrativas:
Você não deve estabelecer uma doutrina bíblia numa narrativa histórica. As narrativas históricas são descritivas e não normativas. Davi dançou, isto de fato aconteceu, mas não normatiza o que deve acontecer ou um mandamento para a Igreja hoje. Lembre-se sempre que a formulação de uma doutrina bíblica deve incluir tudo o que a Bíblia diz sobre o assunto.
Uma narrativa, geralmente, não ensina diretamente uma doutrina, mas pode ilustrar uma doutrina que é ensinada de modo proposicional em outro lugar da Bíblia. Davi dançou, registra a narrativa bíblica, mas isso não ilustra uma doutrina que é ensinada em outra parte da Bíblia.
Transcrevemos abaixo as palavras hebraicas e os seus significados, apontando as referências bíblicas. Faça uma análise dos textos.
A primeira é chuwl ou chiyl = torcer, girar, dançar, contorcer-se, temer, tremer, trabalhar, estar em angústia, estar com dor; suportar, dar à luz; esperar ansiosamente; ser levado a contorcer-se, ser levado a suportar; ser trazido à luz; ser nascido; rodopiando (particípio); contorcendo, sofrendo; tortura (particípio); esperar ansiosamente; estar em sofrimento. (Deuteronômio 2:25; Juízes 21:21,23, Jó 15:20; Salmos 55:4, 77:16; Isaías 23:4-5, 26:17; Jeremias 4:19, 30:23; Ezequiel 30:16; Joel 2:6).
Outro termo é machowl = dança uma dança (em círculos) ou dançando. (Salmos 30:11, 149:3, 150:4, Jeremias 31:13, Lamentações 5:15). Machowlah é um termo derivado que significa uma dança ou um grupo de danças. (Êxodo 15:20, Juízes 11:34, 21:21, I Samuel 18:16, 21:11, 29:5; Jeremias 31:4).
Giyl ou guwl é outra palavra hebraica e significa girar (sob a influência de qualquer emoção violenta; regozijar-se, estar contente, alegria, estar jubiloso, regozijar-se (Salmos 2:11, 9:14, 13:4,5 16:9, 21:1, 31:7, 32:11, 35:9, Zacarias 9:9).
Karar significa dançar, girar (II Samuel 6:14).
Raqad significa saltitar, dançar, pular, fazer saltar. (Salmo 29:6, 114:6, I Crônicas 15:29, Isaías 13:21, Joel 2:5, Naum 3:2).
Dalag significa saltar, pular sobre. (II Samuel 22:30, Salmo 18:29, Isaías 35:6, Sofonias 1:9, Cantares 2:8).
Pazaz significa saltitar; ser feito forte. (Gênesis 49:24; II Samuel 6:16).
Chagag significa mover-se em um círculo; marchar em uma procissão sagrada, observar um festival; estar tonto, cambaleante: celebrar, dançar, (manter, observar) uma festa (feriado) (solene), rodopiar. (Êxodo 5:1; Levítico 23:41; Êxodo 23:14; Deuteronômio 16:16; Salmos 42:4; I Samuel 30:16).
Cabab indica revolver-se, circundar ou rodear, usado em diversas aplicações, literais e figurativas (como segue): virar, voltar, desviar, retornar, rodear, percorrer ou circundar, cercar, mudar de direção; virar, rodear, circundar, mudar; marchar ou andar ao redor, ir parcialmente ao redor, ir aos arredores, dar uma volta, fazer um circuito, percorrer, circundar, cercar; voltar-se, cercar, dar a volta; ser mudado de direção para; rodear, mudar, transformar; cercar, circundar; aproximar-se, rodear; marchar, vaguear; fechar, envolver; virar, fazer virar, voltar, reverter, dar volta, mudar para, retornar; fazer voltar, circundar, cercar; ser mudado; ser cercado.
Haliykah significa uma caminhada; uma procissão ou marcha, uma caravana: companhia, indo, andar, caminho. (Salmos 68:24-25).
Shiyr da raiz shuwr (I Samuel 18:6), com a idéia de cantores ambulantes; cantar: contemplar, cantar (cantor, homem que canta, mulher que canta). (Êxodo 15:1; Salmos 33:3, 100:2, 137:3; Jeremias 20:13; Isaías 54:1; I Crônicas 15:27).
Yadah significa, literalmente, usar (estender) a mão; físico, lançar (uma pedra, uma flecha) a (alguma coisa/alguém) ou longe. Reverenciar ou adorar (com mãos estendidas) gemer, estar aflito (torcendo as mãos): lançar (fora), (fazer) confessar (confissão), louvor, atirar, (dar) graças (ação de graças, ofertas). (Salmos 42:4; Jeremias 33:11).
Terceiro, a adoração envolve a vida do adorador. O culto é a vida e a vida envolve o homem na sua totalidade: corpo e alma.(Romanos 12:1; I Coríntios 6:20). Quando alguém vai à adoração coletiva, ele não vai "desencarnado". O culto é "de corpo presente". Logo, todo culto coletivo envolve a expressão do coração, da mente e do corpo.
O grande problema ou o pomo de todas as discórdias é a utilização de algumas "expressões corporais", no momento do culto coletivo. Devo dançar, levantar as mãos e bater palmas para expressar a minha adoração a Deus?
No culto do Antigo Testamento ou da Velha Aliança, a expressão corporal estava limitada ao culto individual e provavelmente as festas religiosas. Nos cultos coletivos não havia o louvor congregacional, pois somente os "cantores oficiais" tocavam e cantavam no templo. No culto do Novo Testamento ou da Nova Aliança, a adoração congregacional é estabelecida e praticada. E o único texto que refere-se a expressão corporal no culto coletivo está em I Timóteo 2:8: "Quero, portanto, que os varões orem em todo lugar, levantando mãos santas, sem ira e sem animosidade." Trata-se do "levantar as mãos", exclusivamente para pessoas do sexo masculino, no contexto da oração.
Diante do exposto, no meu entendimento pessoal, concluo:
Esforcemo-nos para oferecer a Deus aquilo que Ele pede de nós. Adore ao Pai em espírito e em verdade. Não tente oferecer a Deus o que Ele não está pedindo em Sua Palavra, pois podemos cair no mesmo erro dos fariseus: "Este povo honra-me com os lábios, mas o seu coração está longe de mim. E em vão me adoram, ensinando doutrinas que são preceitos de homens." (Mateus 15:8-9). Preceitos humanos envolvem tudo aquilo que é inserido no culto, em adendo ou substituição àquilo que Deus pede ao adorador. Tanto tradicionais quanto contemporâneos podem cair neste erro.
Utilizemos os princípios estabelecidos por Paulo, na orientação que deu a igreja de Corinto, quanto ao culto coletivo: deve ser prestado com equilíbrio: mente + espírito (I Coríntios 14:15); compreensível para todos, principalmente para o visitante (14:19 e 23); tudo seja feito para a edificação da igreja (14:26); tudo seja feito com decência e ordem (14:40); tudo seja feito para a Glória de Deus (10:31).
Obedeçamos às orientações da Igreja ou denominação que você faz parte, enquanto esta permanecer fiel a Palavra de Deus.
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Conclusão
Encerramos este texto na esperança de termos alcançados os dois objetivos propostos na introdução. O primeiro, motivar a liderança da Igreja e as pessoas envolvidas com o ministério de música à reflexão bíblica sobre adoração. O segundo objetivo é incentivar a todos que busquem a verdadeira adoração. Muitas vezes brigamos por assuntos periféricos e nos esquecemos dos essenciais.
É fato que a adoração não vai muito bem. Observamos que as preferências com relação à adoração refletem a nossa natureza egoísta e pecadora: queremos cultuar à nossa maneira. Precisamos restaurar o altar da adoração verdadeira. William Temple diz que "adoração é estimular a consciência pela santidade de Deus; alimentar a mente com a verdade de Deus; purificar a imaginação por meio da beleza de Deus; abrir o coração ao amor de Deus; dedicar a vontade ao propósito de Deus".
O que fazer para restaurar a adoração? Ou nas palavras de W. Wiersbe: "O que será necessário para nos motivar a adorar a Deus? O que terá de acontecer para que desmantelemos nosso esfarrapado showzinho religioso e construamos de novo um altar para o Senhor?"
Primeiro, comece restaurando a sua vida devocional. Deus muda igrejas mudando indivíduos. Leia a Bíblia e ore diariamente. Entenda que o verdadeiro culto começa na vida do adorador e na sua maneira de viver. Culto é vida! Abandone o pecado e busque a santificação pessoal. "Devemos começar com as nossas próprias vidas, nossa adoração pessoal a Deus. E à medida que crescemos, não devemos criticar os outros e tentar mudar tudo dentro da igreja. A verdadeira transformação espiritual deve vir de dentro para fora. Precisamos ter cuidado com as mudanças cosméticas que não afetam o coração da igreja. O cântico de hinos diferentes, alteração da ordem do culto, ou mesmo as mudanças nos móveis da igreja, nunca transformarão uma igreja. É preciso que o Espírito atue nos corações, e isto toma tempo." (W. Wiersbe).
Segundo, seja humilde e submeta a sua mente e a sua vontade ao Senhor e a Sua Palavra. Não olhe para si mesmo como alguém que é "um espiritual superior", cultuando com "ignorantes" e "inferiores". O Senhor Jesus sendo quem era, quando na terra, freqüentava a sinagoga e o templo, apesar de ambos estarem nas mãos de líderes religiosos que resistiam à verdade. Ele cultuava a Deus coletivamente, convivendo com adoradores falsos e defeituosos.
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Notas dos Editores do Música Sacra e Adoração
1 - A citação aos “Princípios de Liturgia” da Igreja Presbiteriana do Brasil explica-se pelo fato de o autor ser membro desta denominação. (voltar)
2 - Poderia ser acrescentada à bibliografia o livro "O Cristão e a Música Rock" do Dr. Samuele Bacchiocchi, disponível em http://www.musicaeadoracao.com.br/livros/rock/index.htm (especialmente o Capítulo 7) (voltar)
3 - Os editores do Música Sacra e Adoração agradecem ao autor a gentileza em disponibilizar este artigo para publicação.
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